domingo, 15 de abril de 2012

"As your bony fingers close around me"

Aconselhada por um primo, comecei, recentemente a ver uma série americana chamada Breaking Bad. Ele disse-me que se tratava de um professor de química que, ao descobrir que tem cancro do pulmão, resolve começar a cozinhar e a traficar metanfetaminas, com o intuito de conseguir algum dinheiro para não deixar a família desamparada, quando morrer.
A priori, interessei-me por ser uma série que gira à volta de química e, claro, por abordar questões morais. O modo como alguém honesto pode ser levado a transgredir, até a um ponto sem retorno. Neste momento, vou a meio da segunda temporada e o que mais me tem agarrado à série é a problemática do tráfico/consumo de droga.
A história é contada dando a conhecer a luta da polícia contra este flagelo e, por outro lado, o esforço dos traficantes para a conseguirem ludibriar. Não que seja novidade alguma, mas a série mostra o quão podre é aquele mundo. No episódio que vi esta tarde (o que até agora mais me impressionou) surge um casal de junkies com um aspecto, verdadeiramente, deplorável, sendo que a mulher não aparentava sequer ser humana. Não querendo ser spoiler vou só dizer que, a certa altura, nos apercebemos que esse casal tem um filho muito pequeno que está sozinho em casa, meio despido, sujo e com fome. Quando os pais chegam a casa o seu reflexo não é ir, de imediato, ver a criança mas sim, discutir acerrimamente pelo facto de um deles ter perdido parte do "produto" na rua. Apesar de fictício, caso pudesse eu teria entrado pelo computador e trazido aquele menino comigo, para casa. Tudo isto para dizer que me arrepiou pensar que existe, efectivamente, gente que sofre muito mais ao não ter um o raio de um pó para snifar do que ao ver um filho sem nada para comer.
Perante este tipo de ficção ou realidade (porque, infelizmente, conheço casos parecidos) desta índole que me questiono vezes sem conta - como é que algo assim pode, ainda,  parecer tão glamouroso a tanta gente? Algo que transforma o Homem num autómato, num escravo em busca da próxima dose, ao ponto de não haver mais nada. De não haver mais ninguém.


 Dépeche Mode - Dream On 

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