quarta-feira, 1 de julho de 2015

A certeza é o estado de ignorância de pior prognóstico

O conhecimento é o processo de descobrir as razões pelas quais a resposta correcta é (sempre) "mais ou menos". 

Ou "depende".

Já vos escrevi sobre isto? Não estou certo. Escrevi isto há muitos meses num papel com o qual me cruzei hoje. Só a frase — o resto é reflexão de agora.

Quanto mais profundo é o conhecimento (em qualquer área) mais ele se aproxima do saber que nada é absoluto. Efectivamente quanto mais soubermos de uma matéria menos respostas taxativas podemos dar sobre ela. Porque não há verdades taxativas! Nem absolutas! Verdades absolutas são apenas sinónimo de conhecimento precário, insuficiente.
Isto é difícil e chato de explicar às pessoas. Porque no geral as pessoas querem precisamente uma resposta taxativa, simplista.
"Sim isto é mau." ; "Sim está correto." ; "Não, isto não faz bem." ; "Esta é a opção perfeita.".
Porque o mundo é mais fácil de lidar se for dividido em duas categorias, e o meio, o "depende", não é agradável. O depende passa a decisão para o nosso lado. E nós não gostamos de decisões — porque envolvem responsabilidade. 


Na mesma folha tinha também escrito: Na perfeita harmonia, perfeita apatia.
Mas discordo.
E não vou falar sobre isso porque não tenho tempo.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Não sei desenhar barcos

— Não sei desenhar barcos!
— E que tem isso?
— Tem que acho que precisava de desenhar uns.
— Precisas desenhar barcos e nao sabes?
— Creio que seja mais o inverso. Não sei desenhar barcos, e agora que me apercebi disso sinto que precisava de saber.
— Que tipo de barcos?
— Naturalmente galeões, que são os que menos sei desenhar.
— Pois, foi essa necessidade que nos levou a conquistar os oceanos. A dominar os mares! E em boa verdade tudo o resto.
— A necessidade de desenhar barcos?
— Não, a necessidade de fazer o que não se consegue.


Belíssima música deste filho da mãe cujo título me inspirou para este texto sobre a verdadeira razão de quase todos os feitos épicos.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Ratos de Museu

Já é antiga a rivalidade entre os ratos de biblioteca e de museu. Há mesmo racismo entre as duas facções (estive tentado a dizer raticismo e ia ser mau...).
Os ratos de biblioteca sempre se gabaram de viver na génese da cultura.
Os outros dizem que já havia pinturas rupestres antes dos livros.
Os primeiros respondem que os desenhos rupestres são apenas os antepassados das letras, um sistema de escrita primitivo. Bons tempos quando a palavra "cavalo" era composta por uma cabeça, quatro patas e um rabo.

Ignorantes! — dizem uns. Insensíveis! — retaliam de cima das estátuas os outros.
Imprecisos! — criticam do alto das estantes, dizendo que o seus métodos são os únicos confiáveis. Ditadores! — alegam no museu dizendo que não há liberdade nem espaço para a personalidade nas bibliotecas.

No museu os roedores consomem mais drogas mas apesar disso a taxa de mortalidade das populações é semelhante porque na biblioteca morrem mais de tédio, especialmente os ratos analfabetos claro está.

Dizem pela biblioteca que os livros são a cultura em estado casto, o conhecimento cristalizado no requinte mais sensual da sua pureza. Tão puro que, dizem eles, a leitura é o método mais fluido de transportar uma ideia, é mesmo a única forma de fazer ouvir-se uma ideia minha na tua cabeça, com a tua voz a pensar as palavras que eu escolhi. E é isso que eu te estou a fazer. A controlar-te a mente. A dizer as minhas palavras dentro da tua cabeça. Voltando aos ratos — já me exibi o suficiente.

No museu os ratos dizem que a arte (no museu os livros não são arte) é o conhecimento amaciado pela sensibilidade humana. Transversal à língua ou à literacia dizem. A brutalidade das ideias talhada para não ser indigesta. No museu uma lágrima chora-se, na biblioteca lê-se. E é esdrúxula!

É áspera a discordância entre os roedores.
Mas também, no fim de contas, o que percebem eles de cultura?

Já tentei dizer isto num desenho mas não consegui!

A melhor conversa do mundo

Perguntei a Deus se ele existia.
Ele respondeu:
— Não, não existo.
Fez-se um silêncio constrangedor e ficou-se por aquilo. Não o tenho por mentiroso.

Claro que a melhor conversa do mundo teria de ser entre o homem e Deus.
A segunda melhor é entre dois golfinhos mas não a vou transcrever hoje.




P.S.: dois golfinhos tatuados.
                                Numa nádega.


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Infelic idade

Escrevo para desencorajar uma estratégia ridícula.

Ser mais infeliz não é sinónimo de ser mais adulto. 
Ser carrancudo também não.
A sério, partidários e praticantes dessa ideia, afianço-vos — não é!
Mas pensando bem talvez resulte, perante outros como vocês. Afinal de contas, se vocês acreditam que esse ar grave e aquele pesar postiço vos faz parecer mais maduros certamente é porque o interpretam assim nos outros. 
Provavelmente as pessoas mais velhas até serão, em média, menos felizes. Porque tem mais responsabilidades e problemas, porque a vida é mais monótona, ou porque os seus olhos é que já lhe vêm pior os tons, porque os níveis de endorfinas no cérebro decrescem com a idade, porque está escrito nas estrelas, porque com a idade vêm as cataratas e já não dá para ver essas estrelas, porque é difícil ser feliz quando nos doem "as cruzes", eu não sei. Agora não é certamente por serem mais maduros. E muito menos por serem mais sábios.
É risível essa atitude. 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Abrindo Abril



perfeita para ouvir a caminho de um lugar verde e calmo
neste início de mês ensolarado

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Noite de Carnaval

Esta é uma noite rara. Nesta noite, e só nesta noite, os super-heróis descem a uma condição mais frágil, mais humana. Estão vulneráveis ao ponto de facilmente se poder encontrar o incrível Hulk a chorar baba e ranho na urgência porque torceu um pé, ou o Super-Homem que não aguentou com tantos shots como pensava (aparentemente super-homem ≠ super-fígado). E mesmo o Wolverine regenera tão mais lentamente que chega a necessitar dos cuidados do nosso SNS.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Frozen heart (2)

Há uns meses escrevi aqui uma reflexão com o mesmo título deste post. É ela, em súmula ou por inteiro, uma só frase:
"O bom de não ter sentimentos é não se poder ficar triste por causa disso."

Na altura não acrescentei sequer uma imagem, por não me ocorrer nada que encaixasse devidamente.
Mas entretanto passei por um quadro de Dali perfeito para isso — O nascimento de uma divindade.


Não me vou pôr aqui a descrever extensamente o quadro, mas aquele coração rochoso a emergir de um lago gelado, o torpor daqueles olhos... Dor, angústia? não, muito para além disso já — só entorpecimento mesmo. O apagamento emocional da figura... parece feita de encomenda.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A estupidez e o surrealismo

Num tabuleiro de xadrez algures na Índia, onde o pai do xadrez nasceu, está um puro-sangue lusitano à conversa com São Nicolau:
— Parece aborrecido... — comenta o equídeo como quem pergunta o que se passa.
— Nem vou estar aqui a contar-lhe toda a história, mas em resumo é isto: detesto gente estúpida! — reclama, desconcertado, o bispo com um barrete vermelho.
— Não despreze a estupidez — contrapõe o cavalo — que ela é o surrealismo dos pobres (pobres de espírito claro está)!

Entretanto, e sem os outros se aperceberem, passava um peão, partidário dos pobres de espírito, fazendo piruetas consecutivas, julgando-se, porventura, um pião.
Terá ouvido a conversa e gritou-lhes:
— E sabem o que é o surrealismo? — não esperou uma resposta — É a estupidez, só que cuspida da boca dos presunçosos! Só ganha o título quando lhe vão ver na etiqueta a origem!
Logo se gerou grande confusão entre São Nicolau e o peão, mas o burburinho não teve muito tempo de se espalhar. A rainha saiu dos seus aposentos e comeu prontamente o bispo. E restaurou-se o silêncio.
Claro que pelas vielas mais sombrias do tabuleiro se ouviam comentários de que o estado deveria ser laico e era um mau princípio aquele tipo de promiscuidade entre o clero e os governantes... mas há sempre más línguas.

Ao fundo, do outro lado do tabuleiro, do alto da sua perspicácia, dizia uma Torre que este texto tanto era uma auto-crítica como simultaneamente a sua defesa!

Dúvida existencial

Esta é uma dúvida que me passa frequentemente pela cabeça. Sempre que vejo ou uso a expressão.

Como interpretar a expressão First World Problems ?

Como uma expressão de chacota dos problemas de que o "primeiro mundo", o mundo ocidental, se queixa ?
Ou como uma ironia dizendo que o problema em questão é dos primeiros, dos mais relevantes, dentre os problemas do mundo (quando na verdade é irrelevante)?

Basicamente, dizendo isto de outra forma: como é que mentalmente lêem a expressão?

"First     world probems" ou "First World        problems" ?

alguém dirá agora, e muito bem, sobre este post :
First world problems...

sábado, 17 de janeiro de 2015

Walking, por Ryan Larkin (1968)

Uma relíquia. Uma ideia simples e tão distinta. Em 1968 pensou inspirado "o que eu quero realmente retratar são figuras a caminhar, simplesmente figuras a caminhar", e fê-lo de uma forma tão fluída e original. Foi nomeado para o Oscar da academia por este trabalho, mas não ganhou.
Os trabalho de Ryan Larkin é uma grande influência para o do mundo da animação. Mesmo tendo em toda a carreira produzido apenas 3 animações, sendo uma delas a Walking.

Sobre o extremismo e o fundamentalismo

Sobre o quão ridículos são.


Poe's Law:


Sem uma indicador óbvio de que se trata de humor, é impossível criar uma paródia ao fundamentalismo que não vá, ela própria, ser interpretada por alguns como uma afirmação verdadeira.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O termo "Grunge"

O Marylin Manson veio dizer esta semana que foi ele quem inventou o termo Grunge.
Ao que consta antes de ser músico trabalhou como jornalista. Andou a cobriu eventos de algumas bandas ali no fim dos 80's início dos 90's. Entre elas os Nirvana. E publicou lá para a revista onde trabalhava uma crítica ao primeiro álbum dos Nirvana —  Bleach — onde terá usado pela primeira vez o termo, tão bem aplicado, que a partir daí vingou. Interessante, embora não tenha a certeza se compro a história.


Fica aqui a mais conhecida do Bleach
About a girl




Tablet

o melhor amigo do anestesista.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

in O FANTASMA DE CANTERVILLE , de Oscar Wilde


—  Meu caro senhor  —  retorquiu o americano  —  ,compro o castelo com todo o seu recheio, incluindo o fantasma. Venho de um país onde se adquire tudo com dinheiro. Os meus compatriotas, activos e diligentes como são, têm levado para a nossa terra tudo o que há no Velho Mundo, a começar pelas melhores e mais célebres actrizes; se, realmente houvesse fantasmas na Europa, eles não deixariam de os adquirir para os nossos museus.
—  Mas eles existem, senhor Otis!  —  respondeu o lorde Canterville, sorrindo  —  , embora tenham resistido às propostas tentadoras dos empresários americanos.