sexta-feira, 18 de março de 2022

Poema só com perguntas


O título não faz parte do poema?

Não devia também ser uma pergunta?

A poesia tem de ser verdade?

A arte verdadeira não se chama jornalismo ou história?

Para quê continuar com isto?

Nem um poema há de ser,

que o defraude na arte tem de ser grande para valer a pena. Será à descarada. Ninguém gosta de ver um filme mediamente mau. Que seja ultrajante então. Que saiam do cinema nauseados. Que se façam manifestações, que haja mensagens de ódio nas redes sociais, ameaças ao autor.  Mas nunca placidamente desapontante — esse é o nadir da vocação inútil da arte. Eu se não chegar a bom preferia quedar-me por repulsivo, com estrangeirismos absolutamente despropositados no texto, por exemplo. E com um abuso de auto-referência e recursividade, que de resto até é um defeito que também está bem patente na poesia decente. Que se note a implícita, e depois explícita, todavia ridícula, sugestão de que ser poesia se baliza pelo grafismo do texto. Que se seja condescendente com os leitores e se lhes explique as já parcas subtilezas. Sem coragem — nem isso — para um insulto ou crítica, que se ofereça uma insultuosa ajuda.

Não só uma obra contra si mesma. Uma obra contra quem a assiste.


Isto se não chegar a bom pelo menos que se fique no que já é.