sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Max Weber - o pai da sociologia

"O estado é uma entidade que reivindica (com sucesso) o monopólio do uso legítimo da força física"
Dá que pensar não é? 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natal.

Estamos no Natal. Celebra-se o dia que, todos sabemos, não foi o dia em que Jesus terá nascido. Mas já aí vamos.
Vamos primeiro à forma como eu gosto de ver as pessoas. Todos nós, como seres biológicos que somos, devíamos ter um sentido/instinto de espécie. E como seres conscientes que somos devíamos tê-lo racionalmente presente na forma como agimos. Mas mais do que apenas uma espécie, eu gosto de nos ver ainda de uma forma um pouco mais conexa, porque somos indivíduos que podem ter consciência desse sentido (de espécie), e isso é-nos único. Cada um de nós pode (e deve) ter a consciência não só do seu papel individual, mais ainda, não só do seu contributo nos grupos de indivíduos como famílias ou comunidades, mas da sua imperativa participação, por direito e por dever, para o grupo mais abrangente, a espécie. Pois é, para além das razões morais, religiosas, românticas, etc, esta é a perspectiva biológica que sustenta a acção não egoísta, a acção solidária.
Agora do interesse geral julgo que seja a sobrevivência da espécie, como o é em todas. Creio que ainda não estejamos em iminente risco, apesar de algumas acções desastrosas sobre as quais não vamos discorrer hoje. Mas porque somos ambiciosos e tivemos a sorte de vir tão bem equipados com poder intelectual, julgo que devemos almejar algo mais do que a mera sobrevivência da espécie — a sobrevivência com qualidade. E julgo que facilmente concordaremos que sobrevivência com qualidade será mais facilmente traduzida como felicidade. Retenha-se então esta ideia.
Voltando ao Natal, que recordamos ficou associado ao nascimento de Jesus. Jesus é o fundador de uma religião. Ora Jesus não foi certamente o único a fazer isto, mas fê-lo de uma forma que se tornou uma das mais populares, sobretudo no ocidente. E o que é isto, uma religião? É um sistema de pensamento, uma doutrina, argumentos intelectuais/espirituais, destinados a estimular este imperativo de grupo, de pertencermos todos a algo comum e maior. Um objectivo partilhado e maior que o indivíduo em si. Uns dirão que isso é o paraíso ou o reino dos céus, outros que essa identidade comum é o próprio Deus, outros dirão que a humanidade é como um super-organismo imensamente complexo mas uno, (os americanos dirão que isso é a constituição dos EUA)...

Sem se preocupar muito com o o nome a dar a isso, ou com a teoria que o conduz lá, a conclusão aqui será sempre similar — este natal, faça a sua espécie mais feliz!
(mensagem também válida para animais de outras espécies que me estejam a ler)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Facebook e a Festa do Semáforo

Há muita gente que usa o facebook, de forma mais ou menos consciente, para fins, no fundo, de acasalamento. Vamos usar este termo só para tentar que a ideia choque um pouco, porque já todos sabíamos isso perfeitamente. Muita gente mesmo, é óbvio! Claro que as pessoas não admitirão isso para si — nem é preciso!
O facebook é como a festa do semáforo. As pessoas conhecem alguém que suscita interesse, e tanto num caso como noutro é quase sempre pela aparência (o ser humano é um animal muito visual). A seguir olham para a cor do cartão ou da roupa que trazem vestida para ver a disponibilidade. Se está verde — avançar! ; se está amarelo — avançar com precaução ; se está vermelho — avançar só se não houver polícia por perto. As pessoas fazem o mesmo com o facebook. Vão lá fazer a sua investigação, avaliar, e poupar perguntas (difíceis...) que podem esclarecer ao ver a conta do alvo. É simples ver se está verde ou vermelho, ou então que tipo de amarelo é. Há muitos tons de amarelo, vão a um catálogo de tintas que vocês vêem. E há muitos indícios para identificar o tom de amarelo, mas nem vou agora pincelar sobre isso.
Mas há quem use o facebook de uma forma que nem uma festa do semáforo iguala! Há quem vá percorrendo o facebook à procura de verdes e amarelos favoráveis em busca de estabelecer posteriormente o contacto. Uma triagem portanto. Inversão curiosa da ordem dos acontecimentos, que já eram em si peculiares. Inversão esta que em analogia corresponderia a chegar à entrada da festa, receber uma lista das pessoas presentes, separadas por cores e por tons, e escolher em que grupo se imiscuir!

Mas, e o que é que eu acho disto?
Não estou aqui para dar opiniões que isso hoje em dia é perigoso ter! Gosto de me imaginar neste texto como um jornalista, dos que escasseiam hoje em dia, a fazer um relato imparcial dos factos ( jornalista esse que teria escorregado somente em duas singelas ocasiões durante o texto, com os adjectivos QUALIFICATIVOS "curiosa" e "peculiares" — nada de muito grave portanto!)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O problema de Portugal - 2

O problema de Portugal era que o que os portugueses mais gostavam de ver na televisão era novelas brasileiras.
Agora já não é assim. Viva o nacionalismo!!
Agora o problema de Portugal é que o que os portugueses mais gostam de ver na televisão é a casa dos segredos.

Mudam-se os tempos, mudam-se os canais. O vácuo de conteúdo nem por isso.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O problema de Portugal

O problema de Portugal não é ser um país de 10 milhões de habitantes. O problema de Portugal é ser um país de 10 milhões de portugueses.
10 milhões que pensam à português, e agem à português. 10 milhões de despreocupados no início do mês e 10 milhões de coitadinhos mais para o fim do mesmo mês. Em Portugal sofre-se muito de coitadismo. O problema de Portugal é que tem políticos portugueses, com a agravante de ter eleitores portugueses.

A sorte de Portugal? é que pode ser que um dia volte a lembrar-se de ser um país de 10 milhões de PORTVGVESES.

e este cliché espirrado aqui no final? hã?

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Duas explicações

Porque é que ignorância é felicidade?
Há duas formas de responder. A simples e a complexa.
A simples, e não menos verdadeira:
Porque as coisas geralmente nunca são tão belas como aparentam superficialmente. Conhecer é ver em maior profundidade, onde estão os bolores e as imperfeições, e ficar desagradado com isso. Ignorar, é ver a camada superficial e plástica, pasmar-se com ela, adorá-la incondicionalmente e ser ingénuo mas feliz.
A outra explicação:
O conhecimento é um processo ingrato. A satisfação é a sensação de possuíres aquilo que te importa. Se não souberes que há outras opções nunca estarás insatisfeito com o que tens. Se nunca explorares verdadeiramente as outras opções também não sentirás a falta delas. O segredo é não saberes o que não tens. Escolher é sempre perder algo.
Faz um só desenho para a tua vida, e transforma-te nele. Ama só uma mulher. Saboreia só uma cidade até a sentires tua. Vive só num país e grita só por ele. Apaixona-te só por um grupo restrito de actividades e de interesses. Poucos e bons, como recomenda o povo sábio. O teu povo! Segue desde o princípio uma só filosofia de vida, uma só posição política, uma só religião. E fá-lo amando sempre essa mesma mulher, nessa mesma cidade, a tua cidade, ouvindo aquela mesma banda, a vossa banda. Acredita piamente que tu foste feito para te encaixares na perfeição, e só, com aquilo que reuniste à tua volta. E sentir-te-ás confortável com as tuas escolhas e com o que lhes dedicas. Nunca te sentirás em falta.
Ou então explora, abraça e apaixona-te por muitos caminhos. Mas fá-lo sabendo que nunca mais serás completo. Parte. Vai. Parte. E depois parte-te, porque é inevitável. Nunca mais serás um todo. Deixarás sempre algo para trás.
Aventura-te mas sabe que carregarás sempre a saudade, e algo mais do que a saudade, que eu não sei bem o nome. Mas será assim, para onde quer que vás. E para onde quer que voltes.


para acompanhar o texto, parallel lines.

domingo, 16 de novembro de 2014

Caso de estudo: O copo

Há um copo sedentário na janela do quarto há semanas. Observo-o todos os dias, nunca se move. Não se põe à sombra nem procura o sol. Impávido, está lá plantado, estou quase certo. Os copos da cozinha não são assim. São nómadas. Ora estão na mesa, ora estão na banca. Às vezes estão sequinhos no armário, outras vezes cheios de água cá fora. Ou ainda no meio termo, molhados e a secar no escorredor. Os copos que habitam a cozinha não passam 2 dias no mesmo sítio.
Pergunto-me porque é que aquele escolheu ser assim. Pergunto-me se escolheu sequer. Talvez seja o seu destino. Talvez o deus dos copos o tenha feito assim e querido assim o seu destino. Talvez apenas espere passivamente que o seu destino mude, porque está escrito. Outro copo, com crenças diferentes talvez se tivesse levantado e migrado até à cozinha. Mas este não.
Se ao menos eu pudesse fazer algo para o mudar... 

(Para que não pensem que estou aqui apenas numa história surrealista non-sense gostava de lembrar que a cultura popular já se debruçou sobre esta temática (de forma menos estilizada é certo) há incontável tempo, e deixou-nos ensinamentos como "fia-te na virgem e não corras")
(que me perdoem aqueles para quem bastava o texto sem esta adenda!)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Aquela sensação

de quando parecem estar a aldrabar as coisas mas vão reafirmando (vezes demais, em tempo de menos) que está bem, que está bem, e que logo ainda vai estar melhor...
e no fim confirmam-se as suspeitas.

domingo, 2 de novembro de 2014

Todos falam da beleza e da magia de se apaixonar...

mas e sobre a situação inversa, ninguém fala ou escreve?

Ao contrário da única ideia vendida em massa, o término de uma relação pode ser uma mudança de consequências agradáveis.


O Mundo é um local mais bonito e estimulante depois do fim de uma relação.
As cores são mais vivas e brilhantes.
Há mais claridade por toda a parte. Ou é das janelas que aumentam ou é a luz que entra que é mais forte.
Ou então é dos olhos.
O ar é mais leve.
As pessoas são mais interessantes...

É como a frescura de virar a almofada ao contrário numa noite abafada.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O filme mais original

Se eu pudesse vertia um sonho de um cego de nascença para um video. As imagens de quem nunca viu imagens. A inimaginável forma como imaginam o mundo.

Silvestre, o melhor escritor do mundo

Depois de se ver envolvido num escândalo de doping por uso de LSD num concurso de escrita criativa, Silvestre teve de encarar o julgamento e a punição atribuídas.
Foi condenado a passar 2 anos no complexo com a estadia mais cara da cidade. Lá podia fazer tudo o que quisesse, excepto escrever. Excepto escrever e criar memórias (não fosse ele produzir e guardar mentalmente os textos, estava sempre num estado de amnésia anterógrada induzido).
O conhecimento público da decisão judicial causou uma vaga enorme de contestação social.
Todas as árvores se deslocaram ao palácio da justiça para se manifestarem contra a decisão. Levaram placas de plástico e metal com palavras de protesto (por razões óbvias vai contra a conduta moral de qualquer árvore usar cartolinas, papeis ou placas de madeira). Aquele que inicialmente tinha sido pensado como um protesto pacífico acabou por se desenrolar num cenário bem mais violento, com algumas plantas carnívoras tendo mesmo comido vários agentes da autoridade. Centenas de plantas acabaram detidas, — entenda-se portanto — postas em vasos.
Os protestos duraram semanas e muitas das árvores chegaram a criar raízes, acabando por se fazer um jardim na frente do tribunal.
As árvores mostravam-se contra a decisão por convicções religiosas. Explicando: Silvestre era considerado uma divindade para as árvores porque ele lhes concedia, através dos seus livros, uma vida depois da morte. Uma reencarnação em papel, em papel onde corria a vida de uma boa história (o termo reencarnação deveria ser apenas usado para animais e nem todos, que nem todos dão bife).
A Prisão-Hotel, o sítio onde deveria cumprir a sentença, funcionava como prisão para as pessoas felizes e estalagem de luxo para as pessoas infelizes (funcionava portanto ao contrário do resto do mundo, que no fundo é uma gigante estalagem de luxo para uma pessoa feliz).
Na Prisão-Hotel ninguém cria memórias. Os infelizes não se lembram do sofrimento que sentem, os felizes não recordam a felicidade. O esquecimento é talvez o maior deflator do valor do valor dos sentimentos.
Silvestre pediu recurso da decisão por legitimidade religiosa para o uso da substância. Ora após um referendo global telepático (é assim que se decide tudo na democracia perfeita) todos os votos foram em branco, porque nenhum cidadão se sentia devidamente informado para tomar uma posição (de resto isto é semelhante ao que acontece em votações por cá, mas aqui as pessoas votam na mesma no clube partido preferido). Ora, para "desempatar", foi dada ao escritor a oportunidade de votar.
Escolheu ser condenado, porque a existência de mártires dá aquele carisma às religiões...

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sistemas de classificação

Os sistemas de classificação têm um de dois objectivos:
Ou é gerir um conjunto complexo, distribuí-lo, organizá-lo em gavetas conceptuais, de forma a tornar mais simples entender e identificar cada um dos elementos do conjunto;
Ou então é um outro objectivo menos virtuoso mas também muito comum: criar miríades de divisões (diversões diria!) e subdivisões sem grande critério nem coerência e que pouca coisa albergam, para dar um ar complexo e sofisticado a coisas que no fundo são simples, porque tudo o que parecer mais complicado e ininteligível torna-se mais apetecível — o fascínio pelo que não se compreende bem.
Divagando totalmente, ocorreu-me agora que deve ser isso também que justifica as atitudes consistentemente incoerentes e incompreensíveis de algumas pessoas, deve ser uma estratégia para se tornarem apetecíveis — "Ai que sou tão profunda e complicada" (também podia ser no masculino, mas convenhamos, quase todos pensámos nesta personagem como uma rapariga!)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Com e Sem (semi-automático)

Agora escrevo muito mais no computador do que com o lápis (ou caneta, ou pena), não é porque goste mais de escrever no computador, porque não gosto, gosto mais de escrever à mão, o que eu gosto no computador é apagar, é por isso que escrevemos mais nesta máquina de escrever dos tempos modernos, porque no fundo o que todos adoramos é apagar. Gosto de escrever à mão e apagar com o computador. Oxalá fossem conciliáveis: escrita com a mão, com o papel, com o backspace e sem a borracha.
Por falar em mão, uma mão com outra mão com outro dono, por pensar em passear, passeios com natureza, por falar em natureza, deitar na relva sem preocupações, por falar em deitar, cama só com um lençol fresco no verão, mas porque o verão não vai para novo, cama com lençóis térmicos no inverno, melhor ainda, cama com alguém que a aqueceu primeiro, por pensar em conchinha, sexo com música, (por falar nisso, sexo sem cama), por falar em música, jazz com chuva, por falar em chuva, chuva com sol, por pensar em arco-íris, planícies verdes com lagoas, por falar em lagoas, peixes sem aquário e por falar nisso, aves sem gaiolas, por falar em animais, passeios com cães, por falar nesses passeios, ruas sem pastilhas elásticas (e também sem os detritos dos cães), por falar no lixo, contentor dos indiferenciados sem materiais recicláveis, por voltar às pastilhas elásticas, almoços fora com uma pastilha elástica no fim, por falar em dentes, sumo de laranja natural com palhinha, por falar em sumo, pizza com coca-cola, por falar em pizza, fim de noitada com pizza que sobrou do jantar (também se aplica à manhã seguinte), por falar em festa, festas com álcool, por falar em festas com álcool, festas sem álcool demais, por falar em festas, festas com boas conversas, por falar em boas conversas, temas sem o tema trabalho, estudo ou futebol, por falar em falar, falar com pensar, por falar nisso, opiniões com cunho próprio, ideias sem lugares-comuns, por falar em frases feitas: vou andando que se faz tarde!

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O barbeiro

O barbeiro: mestre que domina de igual modo a arte de tosquiar artisticamente o cabelo como a de ter uma conversa genérica com um estranho.
Perito em substituir um silêncio em que nada se diz por uma conversa onde se diz tão pouco como se se continuasse calado.
Nem sempre terá sido assim. Tempos houve em que o barbeiro ( barbeiro-cirurgião) era um homem temido e por conseguinte respeitado. Exímio conhecedor do corpo humano, a lâmina  tanto cortava a barba como atravessava a pele, assim mandasse o caso. Sem anestesias nem conversas da treta. Sem a falsa promessa de que "não vai doer", porque ia, e porque a dor faz parte da cura, diziam, sem apoio bibliográfico a fundamentar. Sem uma conversa amena "nos entretantos" para distrair da agonia da antecipação.
Hoje não. Hoje fala-se do curso, de futebol e da notícia que estiver a dar na televisão, de tudo isso mas da maneira mais genérica possível. Fala-se de tudo sem se dizer nada. Nada de jeito pelo menos...
E o que foi feito do silêncio só quebrado por silvos de dor ou por alguma informação realmente relevante? Hoje é o oposto, não há silêncio, mas há gritos de tédio que são intensos mas mudos...

E só por aproximação grosseira

A única semelhança entre a escrita e a acção, é a forma da caneta.


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Como criar zoombies? — A teoria d'O Mundo De Schrodinger

Estando há dezenas de anos fechado na caixa para servir de exemplo explicativo da teoria quântica, o gato de Schrodinger começou também ele a desenvolver uma teoria quântica sobre o mundo fora da caixa. É a seguinte: miau, miau, grrrrr...

Em linguagem inteligível por humanos a teoria quer dizer que, não tendo ele forma de observar o que se passa no exterior da caixa, e podendo o mundo ter sido devastado imprevisívelmente por uma invasão alien ou por uma doença ou virtualmente por qualquer coisaa humanidade (todos nós!) encontra-se num super-estado, simultâneamente viva e morta!
Este último parágrafo só terá provavelmente sentido para quem tiver algumas noções básicas sobre a física quântica.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Sotaque das Ideias

Até perto dos 18 anos eu nunca me tinha apercebido que a minha pronuncia podia indiciar de onde eu vinha. Claro eu reconhecia o sotaque nos outros, mas até ingressar na faculdade, deslocada de casa, nunca me tinha apercebido que eu poderia padecer também disso. Creio que isto acontece com a maioria das pessoas — não se apercebem que terão sotaque, quantas vezes bem marcado, até estarem numa zona onde a maioria das pessoas não partilha a sua maneira de falar. E a tendência inicial, quando confrontados é negarem: "Eu não tenho sotaque" ; "tu é que tens" ; "o normal é pronunciar-se assim". A tendência natural do ser humano é considerar aquilo a que está habituado — a sua realidade — como o padrão, o correcto. Claro que ao fim de inúmeros avisos, com todo o mundo parecendo concordar na identificação da sua diferença, lá começa a prestar atenção com o espírito mais aberto, e repara que tem fundamento. Isto nos sotaques é engraçado. Todos já nos rimos à custa disto.
Na forma de pensar há um fenómeno semelhante. As pessoas crescem, são educadas e vivem em nichos ideológicos onde raras vezes há lugar para o pluralismo de ideias. As coisas são ensinadas como tendo uma forma correcta, como se existisse uma verdade, muitas vezes dogmática, sem justificações que a acompanhem. É um paradoxo enorme, um desfasamento face à realidade, porque na verdade há tão pouco de absoluto, são raríssimos os assuntos cujo conhecimento seja unívoco. Mas é este sistema o que impera e é curioso que a reacção quando se confronta um desses monólitos intelectuais com uma ideia diferente é semelhante à reacção na questão fonética — a negação, sustentada não nos argumentos mas no hábito, hábito de pensar de uma determinada forma, imutável.
É o que eu chamo de sotaque ideológico. Apanha-se por contágio com os os conviventes mais próximos, líderes de opinião dos grupos em que estamos inseridos, educadores, ou em epidemias regionais ou mais gerais normalmente veiculadas pelos media.
Assuntos como religião, política e até conduta social gerem-se da mesma forma que o clubismo — herdam-se. E é pena, o objectivo devia ser dar a conhecer as diferentes opções, e permitir uma decisão própria e informada, ao invés de impingida



Vi uma vez a moral desta dissertação escrita a graffiti numa parede no Porto:
"Não faças do conhecimento blocos de duro cimento"

domingo, 20 de abril de 2014

Incoerente mas também coerente


Incoerente, indeciso e volátil — não sabe o que quer!
Coerente numa coisa: o som, tão bom!

(i want to be a) Gangsta


Gangsta no more

A Felicidade De Encontrar Um Padrão (remédio para o sono)

Oh, que doçura incomensurável encontrar um padrão!
Uma "explicação", mesmo que imprevisível, improvável, ridícula, que importa, mas algo que se possa ver, mesmo que muito de esguelha, como uma explicação. Oh que alívio!
Foi porque se passou por um gato preto nesse dia. Foi por ser sexta-feira treze — como da outra vez. Foi por ser uma semana depois de partir um espelho. Foi porque os signos não combinavam — bem dizia na revista maria. Foi porque entrou com o pé esquerdo no campo — nunca falhou um penalti quando entrou com o direito. Foi porque não levou a gravata da sorte — nunca corre bem quando leva outra. Foi porque o número da lotaria dessa semana foi uma capicua e nessas semanas não pode usar sapatos castanhos nos dias das avaliações — só que esqueceu-se, vejam bem! Foi, foi, foi por isso!
Procuramos avidamente por um destes padrões, é disto que gostamos: emoldurar estes poios intelectuais depois de tanto termos procurado, garimpeiros escatológicos, que na exaustão da procura até os inventámos.
Estes nossos tesouros tem essencialmente de cumprir duas funções.
A primeira é ilibar-nos, ora, estas coisas têm de preferência de não depender de nós; factores externos improváveis e imprevisíveis são os mais adequados. Que culpa teve ele de Marte estar desalinhado com Vénus? Não podia fazer nada! Esta é a função que vos vai deixar entrar facilmente no sono à noite, a respiração volta a ser profunda e calma e o vosso semblante enquanto adormecem torna-se angelical — a leveza com que ficam depois de deportar a culpa para fora da Terra...
A segunda é a que nos livra dos pesadelos matinais, terrores de impotência que nos acordariam na madrugada tardia. Esta segunda função é assegurar-nos de que o acaso não existe, é livrar-nos da vulnerabilidade do aleatório. Acha-se uma explicação estúpida e ela faz esquecer que pode nem haver uma razão efectiva controlável, ou pior, que se ela existir a ignoramos. Sem a percepção da ignorância não há a percepção da impotência! Perfeito! E depois é só evitar fazer os exames com canetas pretas!
E assim se passam noites descansadas na ressaca do fracasso! Desenha-se o sol numa folha de papel e acredita-se que a chuva está a parar de cair!

Vale a pena esta abordagem cobarde?

segunda-feira, 10 de março de 2014

Reconciliação — Esta e as Outras

Este é um post que equivale àquela conversa entre dois amigos ou um casal, após a resolução de um diferendo. Não que tenha havido qualquer periclitante discordância minha convosco, caros leitores, ou mesmo qualquer desagrado recalcado. Mas é certo que atravessámos um silêncio (que só não foi constrangedor porque já estamos tão mutuamente habituados), como aquele que se segue a uma desavença. Posto isto, cabe-me agora encarnar um papel clássico: vir sôfrega mas ternamente, transbordando de desejo já mal contido, tão fortemente exacerbado pela suposta anterior chatice, pegar-vos docemente nas mãos e partindo delas progredir geograficamente e conquistar com carícias todo o resto do corpo... Mas como a nossa relação é meramente virtual, e de cariz apenas intelectual, façam o contraponto desta imagem para o nosso contexto de referência — que sou eu como blogger pedir-vos desculpa por já não escrever aqui há muito tempo.
Cumpridas as formalidades da praxe passemos para o que interessa, que evidentemente neste caso será o que eu vos tenha a dizer. Ora e vamos aproveitar a temática e falar de reconciliações.
Engraçado que após uma briga/desavença haja uma intensificação positiva dos sentimentos. Curioso! Perante um erro, uma falha, após a sua correcção, não só se volta a atingir o patamar anterior, como ainda se supera este. E isto é uma característica exclusivas das relações. Nem na indústria, nem no desporto, nem na política nem na economia, nem em área alguma que me lembre, acontece algo semelhante. Após uma falha, a confiança nunca retoma ao nível prévio, porque se desconfia sempre de ser provável uma repetição da mesma. Mas talvez a questão seja mesmo essa, talvez essa intensidade dos afectos não traduza de facto uma maior confiança, talvez o contrário, talvez se exacerbem os sentimentos como forma de preencher e disfarçar essa lacuna na confiança. Explicações à parte, a existência do fenómeno é inegável, não é apenas mais um cliché infundado. O que eu reparo é que há pessoas, raparigas para ser preciso (não digo que não haja rapazes que o fazem, mas cinjo-me ao que observo) que parecem reconhecer isto como um recurso usável e procuram-no conscientemente. Pelo menos é a única explicação que eu encontro para a procura constante, insaciável (patológica?) por dramas relacionais. Farejam avidamente a mais insignificante situação para gerar um problema, um problema sério!, que terá de passar por todas as fases protocoladas de resolução de uma briga conjugal. O drama, a irredutibilidade, a aparente insolubilidade do problema, o afastamento e o silêncio, e por fim com todo o esplendor: a reconciliação! Esse pico, esse êxtase pós-depressão, esse sentimento de evolução desmedida desde a hora ou o dia anterior!
A minha única forma de entender isto, é que na impossibilidade de manterem uma relação basalmente interessante, motivante, boa o suficiente para ser considerada globalmente positiva, procuram gerar estas situações, esta instabilidade, este afundar mais um pouco aquilo que já é um afogamento crónico, para ganhar um bocadinho de impulso e ter mais uma breve golfada de oxigénio — mais uma reconciliação. Mais um pequeno momento intenso e saboroso para servir de memória positiva que se agarra e se revisita para ajudar a suportar mais uns tempos aquilo que em si já não faz grande sentido. Para parecer que ainda vale a pena. É triste... Mas se não for isto, alguém que me explique, é que vejo disto em tanto lado...
#desculpemlanaodizernadahatantotempo #voltei #continuoagostardevoces #istoetaoridiculo #entendaseestacritica(nãomerefiroàdotexto)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ó Sócio!

Zé não sei o que andas a fazer aí no Porto, mas deves andar muito ocupado porque este blog está às moscas. Vê lá se queres perder a meia dúzia de visitantes que temos por dia (a contar com os vírus, evidentemente, temos imenso respeito por eles que também são filhos de Deus).

Vade Retro, Lúcifer

Epá, passo-me com este pessoal todo a espetar com comida no facebook. Uma pessoa já passa 75% do dia a pensar no assunto. Give us a break!

Red Velvet Oreo Truffle Fudge Cake  This was made for my bff - I'm certain of it!!

C'um caraças, vou almoçar que isto está impossível. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Bicho Papão

De vez em quando, com o coração a bater, dava bruscamente meia volta: que se passava nas minhas costas? Talvez a coisa começasse por trás de mim, e, quando me voltasse, fosse já tarde. Enquanto pudesse fixar os objectos, nada se passaria: olhava todos os que podia, pedras do chão, casas, candeeiros a gás; os meus olhos iam rapidamente de uns para os outros para os surpreender e os deter a meio da sua metamorfose. Não estavam com um ar inteiramente natural, mas eu dizia com força, para comigo: é um candeeiro, é um marco fontanário, e tentava, pelo poder do meu olhar, reduzi-los ao seu aspecto quotidiano. 
Jean-Paul Sartre, in A Náusea

A perfeita descrição do que experiencio sempre que ando às escuras. 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Per-turbante


Sinto-me um bocado parvo depois de ter feito esta piada à Fernando Mendes.  Mas depois olho para esta imagem outra vez, relativizo (cá está o risco!), e reencontro a minha paz...

domingo, 19 de janeiro de 2014

O Perigo De Relativizar

Annie Hall: Alvy, you're incapable of enjoying life, you know that? I mean you're like New York City. You're just this person. You're like this island unto yourself.
Alvy Singer: I can't enjoy anything unless everybody is. If one guy is starving someplace, that puts a crimp in my evening.

in Annie Hall 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Já Vi O Vídeo Do Ronaldo A Chorar

Aquilo foi um golpe muito baixo da criança, muito baixo. 

Tech Issues

É muito chato ter um smartphone quando não se é suficientemente smart para o phone. Escrever mensagens nesta coisa é um desafio e sem querer já fiz várias chamadas, eliminei um programa e volta e meia encontro-me numa aplicação sem saber como lá entrei. Um dia destes recebo uma conta gigantesca para pagar. Meu velhinho telemóvel, tão prático e tão agarrável, como me fazes falta.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Teoria Da Conspiração

Será que o Eusébio esteve à espera que as festividades do Mandela cessassem para falecer?



(Disparates à parte:) Descanse em paz!


Da Sopa

À mesa de jantar, o meu primo de 7 anos, na minha diagonal, fita o seu prato mal cheio com uma concha de sopa que mal cobre os desenhos da cerâmica. Olha aquela suspensão aquosa com uma dor que nem Sócrates sentiu perante o seu cálice de cicuta.
Por minha vez. a sopa sabe-me lindamente, nesta fria noite de janeiro. E custa-me acreditar que lhe possa custar tanto a ideia de comer tão poucas colheres de uma coisa que é praticamente só água, quase sem vegetais. Acto contínuo, recordo a angústia que eu sentia na idade dele perante um prato de sopa. Os doze trabalhos de Hércules foram, com certeza menos penosos do que a longa odisseia que era, para mim, ingerir vinte colheres de sopa. Aquelas algas verdes à tona do caldo... Quais bichos repugnantes! Sim, comer sopa não era de todo agradável, era uma tortura, para mim e para os meus pais que muito se empenhavam em fazer de mim uma criança saudável e bem nutrida. Era uma batalha travada a todos os jantares, ganha ora por mim, ora por eles. Muitas vezes com lágrimas e súplicas à mistura. Sim, já me lembro, nitidamente daquela sensação de quase raiva que sentia por não me deixarem passar directamente para o bife com batatas fritas e ovo estrelado (como era fácil fazer uma criança feliz, outrora). 
Após pensar melhor, compreendo tão bem a dor do meu primo. Subitamente, sinto compaixão pelo infante que não entende que a sopa não sabe assim tão mal e faz muito bem à saudinha. Não é fácil viver num mundo em que quase tudo o que sabe extremamente bem, nos causa um extremo mal. Não obstante, à medida que crescemos vamos, gradualmente, aceitando esta inexorável verdade. Hoje, posso dizer que adoro sopa, tanto como aquela gente que eu achava louca quando me dizia que a "sopa é do melhor que há!". De facto, é. É do melhor, cheiinha de fibra, ferro, vitaminas, até ao infinito e mais além, para mim que pretendo viver muito para lá dos cem. Só é pena que continue a gostar das outras coisas menos benéficas, cheiinhas de corantes, conservantes, gorduras trans, etc, etc. Mas, quiçá, lá chegarei. Passos pequeninos. 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Os Festejos do Ano Novo

Curioso este hábito de celebrar, com tanto fulgor, o quê afinal? A Terra ter completado mais uma volta em torno do sol? Não é bem isso, porque a órbita terrestre não tem propriamente um início ou fim. Se fosse essa a ideia celebrava-se no equinócio ou no solstício. Celebrar então que a Terra tenha dado mais uma volta em torno do sol, desde a celebração do ano passado?
É uma celebração um bocado oca, até estúpida, mas já está tão enraizada culturalmente que é bastante difícil darmos conta disso.
O que há a celebrar na passagem de ano é haver uma desculpa generalizada para uma festa generalizada. Há a celebrar ter uma boa oportunidade para um bom convívio. É talvez o dia mais fácil do ano para convencer toda a gente de que tem que se juntar para fins meramente recreativos. Não há, em si, grande razão de alegria por mudar o número do ano do calendário gregoriano.
Engraçado também, mas de existência mais compreensível, são as resoluções de ano novo. É uma data fácil de decorar, um marco, para olhar para trás, contextualizar no tempo e avaliar. Estes dias de Janeiro devem aqueles em que a Humanidade tem mais expectativas e planos. Vão depois, é claro, esmorecendo ao longo dos primeiros meses do ano, discretamente vão-se esbatendo, sem querermos dar por isso (incomoda reparar que não cumprimos o que nós próprios queríamos), até à transparência total.
Se não houvesse passagem de ano, seria este mundo um mundo pior? A julgar pela quantidade de boas decisões e bons planos traçados nesta data dir-se-ía que sim, mas uma segunda análise, que considera a perseverança das mesmas, indicia-nos que não seria grande a diferença.
Então, moral da história, aproveitem as passagens de ano acima de tudo como uma oportunidade de passar um bom bocado — é essa a única razão legítima para a sua existência festiva. Quanto a reavaliações, correcções e feitura de planos para endireitar a vossa vida, isso não é para ser feito nessa data, mas sim diariamente!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Tirar Teimas

Zé Manel, a propósito da nossa discussão gerada pelo meu post "Dica", sugiro que faças a experiência e postes aqui o resultado. Faz isso tal qual um anúncio da Neoblanc ou da Blanka Oxi Action. Faz água versus leite e vê o resultado. Assim, tiramos essa dúvida pertinente que colocaste. Porque este blog é muito conhecido pelo seu forte serviço público, parece-me errado deixarmos os nossos leitores sem uma resposta concreta. Suja 2 trapos com marcador preto. É pena já não existir molin, porque essa foi a marca com que pintei as calças.

B Fachada - O Fim

Este menino, não sei se é ele que fala ou o canábis que circula naquele cérebro, mas para além da sonoridade incrível tem sempre este estilo elevado mas próprio de escrever. Poesia erudita e popular ao mesmo tempo.

Já estou tão perto. Depois do deserto, quantas bocas cantarão?(...)Quando eu estou fora, toda a gente me adora, nunca durmo no chão...Corta na novela, para não criar mais bicho, se o amor te apela, dá-lhe exercício, parte uma costela para o osso ficar maciço.

O pesadelo de se ser adorado

Más notícias para os galináceos

Parece que pela primeira vez nos últimos cem anos (que é desde quando há registos minimamente fiáveis), a carne de frango é preferida à carne de vaca nos Estados Unidos.

meat consumption
(os interessados poderão ler a notícia aqui)

Uma óptima notícia para os produtores de frangos, uma péssima notícia para os frangos produzidos. Mundo de contrastes este...

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Dica

Um pouco off-topic e, no fundo, até nem é, com respeito à publicação "Ser Diferente - tirar nódoas de iogurte com sumo de cerejado Zé: uma óptima forma para tirar manchas de marcador é lavar com leite a ferver. Digo-o com conhecimento de causa. Prestem atenção que não duro sempre nem toda esta sabedoria de criança reguila e trapalhona.