quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Duas explicações

Porque é que ignorância é felicidade?
Há duas formas de responder. A simples e a complexa.
A simples, e não menos verdadeira:
Porque as coisas geralmente nunca são tão belas como aparentam superficialmente. Conhecer é ver em maior profundidade, onde estão os bolores e as imperfeições, e ficar desagradado com isso. Ignorar, é ver a camada superficial e plástica, pasmar-se com ela, adorá-la incondicionalmente e ser ingénuo mas feliz.
A outra explicação:
O conhecimento é um processo ingrato. A satisfação é a sensação de possuíres aquilo que te importa. Se não souberes que há outras opções nunca estarás insatisfeito com o que tens. Se nunca explorares verdadeiramente as outras opções também não sentirás a falta delas. O segredo é não saberes o que não tens. Escolher é sempre perder algo.
Faz um só desenho para a tua vida, e transforma-te nele. Ama só uma mulher. Saboreia só uma cidade até a sentires tua. Vive só num país e grita só por ele. Apaixona-te só por um grupo restrito de actividades e de interesses. Poucos e bons, como recomenda o povo sábio. O teu povo! Segue desde o princípio uma só filosofia de vida, uma só posição política, uma só religião. E fá-lo amando sempre essa mesma mulher, nessa mesma cidade, a tua cidade, ouvindo aquela mesma banda, a vossa banda. Acredita piamente que tu foste feito para te encaixares na perfeição, e só, com aquilo que reuniste à tua volta. E sentir-te-ás confortável com as tuas escolhas e com o que lhes dedicas. Nunca te sentirás em falta.
Ou então explora, abraça e apaixona-te por muitos caminhos. Mas fá-lo sabendo que nunca mais serás completo. Parte. Vai. Parte. E depois parte-te, porque é inevitável. Nunca mais serás um todo. Deixarás sempre algo para trás.
Aventura-te mas sabe que carregarás sempre a saudade, e algo mais do que a saudade, que eu não sei bem o nome. Mas será assim, para onde quer que vás. E para onde quer que voltes.


para acompanhar o texto, parallel lines.

2 comentários:

  1. Aceito,mas não concordo que o desconhecimento e ignorância deva ser o caminho para a felicidade. Parabéns pela exposição do tema e pela facilidade em fazê-lo em poucas palavras.

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    1. Antes de mais, obrigado!
      Eu não pretendo aqui defender de todo a ignorância como o caminho a seguir. Nem tão pouco dizer que o conhecimento é sinónimo de infelicidade. Exponho apenas duas opções, duas posturas, e as suas implicações. Ficar atido e dedicado às poucas coisas que já se sabe gostar, sem dar uma oportunidade ao resto, é uma forma confortável e simples de encontrar satisfação. Já conhecer, e acima de tudo experimentar (intensamente, não apenas para dizer que se experimentou), implica descobrir que há muita coisa que nos apaixona mas que acabamos por ter de deixar de alguma forma para trás. A questão é fazer o coping a isso e conseguir vê-lo com um prazer sereno em vez de com tristeza. Uma escolha mais corajosa (arriscada até) esta segunda, mas tão mais bela...

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