domingo, 25 de outubro de 2020

sábado, 24 de outubro de 2020

O objectivo da vida

é preparamo-nos para a morte
é viver uns bons anos, com sorte
e naqueles já mais tardios
mais achacado aos bafios
ir-se desligando aos poucos 
sem custar muito aos outros
(sem nos custar muito aos outros!)
num processo que não se quer
com uma velocidade qualquer
mas antes bem tenteada
que pareça que vem lenta
mas sem chegar atrasada.
a gente bem pede e tenta:
mais devagar para não doer
mais rápido para não custar!
uma velocidade que seja
o quanto baste (!)
— para amortizar a dor —
deixar esmorecer o ardor,
que já sem grandes projetos
deixam-se melhor os netos.
de preferência já visitado
por uis e ais
(meus bons vizinhos)
de uma por outra dor nas costas 
que já façam chegar às portas
do pensamento a ideia
que ela pode nem chegar feia
(afinal se há quem vista bem de preto,
talvez também um esqueleto!)

É que lá na madeira estirado
com as juntas a pedir unto
o velho lombo castigado
não dá sinais do caruncho,
nem consta de nenhum auto
de queixas dos silenciados
que os ossos de tão esmifrados
dêem dores a algum defunto.

 *

Ah, definhar suavemente pela existência fora, como quem cai no sono.
Escutei a vida, plena:
— um fade out desde a infância.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Grande Angular

A floresta via-nos debaixo
Os pés grandes e as cabeças pequenas
E temia que o nosso poder fosse desproporcional à nossa responsabilidade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

sábado, 3 de outubro de 2020

De mansinho

Acerca-te de mim, beleza — rezei.

E procedi com tal delicadeza

Como se estivesse a atrair um gato.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Morde-me

Morde-me.

Come os meus velhos restos.

Alguém tem de acabar

esta refeição.

Alguém será o último

a servir-se.

Doo o meu término

sem reservas

e até com um negro orgulho

aos teus sanguíneos caninos.