segunda-feira, 10 de março de 2014

Reconciliação — Esta e as Outras

Este é um post que equivale àquela conversa entre dois amigos ou um casal, após a resolução de um diferendo. Não que tenha havido qualquer periclitante discordância minha convosco, caros leitores, ou mesmo qualquer desagrado recalcado. Mas é certo que atravessámos um silêncio (que só não foi constrangedor porque já estamos tão mutuamente habituados), como aquele que se segue a uma desavença. Posto isto, cabe-me agora encarnar um papel clássico: vir sôfrega mas ternamente, transbordando de desejo já mal contido, tão fortemente exacerbado pela suposta anterior chatice, pegar-vos docemente nas mãos e partindo delas progredir geograficamente e conquistar com carícias todo o resto do corpo... Mas como a nossa relação é meramente virtual, e de cariz apenas intelectual, façam o contraponto desta imagem para o nosso contexto de referência — que sou eu como blogger pedir-vos desculpa por já não escrever aqui há muito tempo.
Cumpridas as formalidades da praxe passemos para o que interessa, que evidentemente neste caso será o que eu vos tenha a dizer. Ora e vamos aproveitar a temática e falar de reconciliações.
Engraçado que após uma briga/desavença haja uma intensificação positiva dos sentimentos. Curioso! Perante um erro, uma falha, após a sua correcção, não só se volta a atingir o patamar anterior, como ainda se supera este. E isto é uma característica exclusivas das relações. Nem na indústria, nem no desporto, nem na política nem na economia, nem em área alguma que me lembre, acontece algo semelhante. Após uma falha, a confiança nunca retoma ao nível prévio, porque se desconfia sempre de ser provável uma repetição da mesma. Mas talvez a questão seja mesmo essa, talvez essa intensidade dos afectos não traduza de facto uma maior confiança, talvez o contrário, talvez se exacerbem os sentimentos como forma de preencher e disfarçar essa lacuna na confiança. Explicações à parte, a existência do fenómeno é inegável, não é apenas mais um cliché infundado. O que eu reparo é que há pessoas, raparigas para ser preciso (não digo que não haja rapazes que o fazem, mas cinjo-me ao que observo) que parecem reconhecer isto como um recurso usável e procuram-no conscientemente. Pelo menos é a única explicação que eu encontro para a procura constante, insaciável (patológica?) por dramas relacionais. Farejam avidamente a mais insignificante situação para gerar um problema, um problema sério!, que terá de passar por todas as fases protocoladas de resolução de uma briga conjugal. O drama, a irredutibilidade, a aparente insolubilidade do problema, o afastamento e o silêncio, e por fim com todo o esplendor: a reconciliação! Esse pico, esse êxtase pós-depressão, esse sentimento de evolução desmedida desde a hora ou o dia anterior!
A minha única forma de entender isto, é que na impossibilidade de manterem uma relação basalmente interessante, motivante, boa o suficiente para ser considerada globalmente positiva, procuram gerar estas situações, esta instabilidade, este afundar mais um pouco aquilo que já é um afogamento crónico, para ganhar um bocadinho de impulso e ter mais uma breve golfada de oxigénio — mais uma reconciliação. Mais um pequeno momento intenso e saboroso para servir de memória positiva que se agarra e se revisita para ajudar a suportar mais uns tempos aquilo que em si já não faz grande sentido. Para parecer que ainda vale a pena. É triste... Mas se não for isto, alguém que me explique, é que vejo disto em tanto lado...
#desculpemlanaodizernadahatantotempo #voltei #continuoagostardevoces #istoetaoridiculo #entendaseestacritica(nãomerefiroàdotexto)