quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Não És Tu, Sou Eu

Eu estou a ouvir-te, vou só num instante lá fora, mas estou a ouvir-te. Ora essa, não pares, não interrompas o teu raciocínio, faz de conta que nem me levantei, continua imperturbável. Faz de conta que nem reparaste que não estou, que me mantenho à tua frente a olhar-te, fixamente, ora nos olhos, ora no nariz, sorrindo em anuência, a uma frequência razoável. Não me agradeças, eu sempre gostei de concordar. E eu tampouco te posso ser útil neste diálogo unilateral. Nem vais reparar que não estou, mantém a palestra ininterrupta, não faças caso de mim.
Por favor, vou só lá fora respirar, mas estou a ouvir tudo. Quando voltar, podes continuar a fazer de conta que não reparaste que estou. Antes de me levantar, deixa-me só agradecer-te por esta minuciosa autobiografia que me proporcionas, verdadeiramente envolvente. Não imagino melhor forma de passar o serão, com  franqueza, a minha vida nunca mais será a mesma. Por favor, continua que ouço cada palavra, avidamente.
Já volto. Não, não, continua a falar como se cá estivesse, não faz diferença porque não há nada que eu possa acrescentar que interesse. E, lembra-te, ainda que surja oportunidade para eu abrir a minha boca, nunca caias no erro de me dar a palavra. Vais arrepender-te, sou tão enfadonha como desconfias. Nada que valha a pena roubar tempo de antena à tua daily routine, tão eximiamente estruturada, tão bem adjectivada. E eu estou aqui para isso, para testemunhar a tua grandeza. Obrigada! Por me deixares ser figurante na tua vida, caso contrário correria o risco de ser protagonista na minha.
Vou só lá fora ver se fujo. Continua.


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