sexta-feira, 29 de março de 2013

Insulto Paradoxal

Para que serve um insulto? Para expressar desagrado, para criticar, e até mesmo para ferir. Num insulto está sempre inerente a vontade de ferir, ainda que possa ser muito ténue e inconsciente, mas está. É para isto que serve o insulto. Foi para isto que ele foi criado.
Mas como tudo o que surge e se difunde, mais tarde ou mais cedo acaba por ser degenerado, usado inapropriadamente. Os insultos não são excepção, daí que hoje em dia assistamos frequentemente ao uso desviante deste recurso. Abordemos os casos mais paradigmáticos.
Tótó. "És um tótó" é o insulto menos insultuoso de sempre. Aliás, o objectivo de chamar tótó a alguém é precisamente o contrário de insultar. Tótó deve ser traduzido por: oh, eu quero meter-me contigo, dizer-te qualquer coisa para te picar mas deixando evidente que a razão pela qual te estou a "insultar" não é de todo relevante, principalmente face ao meu interesse em ti.
Pateta. Pateta é o outro arquétipo de insulto paradoxal. Chamar pateta a alguém mais não revela do que a vontade do insultante teatralizar uma reprovação muito ligeira a uma atitude do insultado, quando na realidade acha imensa graça a essa mesma atitude. Irei mais longe, ouvir alguém chamar pateta é sinal, numa grande parte dos casos, daquela ligeira distorção da realidade que afecta aqueles que estão a ficar enamorados. Aquela distorção que faz com que coisas absolutamente banais e até parvas tenham um toque doce e uma graça harmoniosa quando feitas por uma certa pessoa.
Agora quero deixar isto claro: há excepções! Não vá alguém cometer uma loucura porque alguém o chamou tótó! Portanto eu não assumo qualquer responsabilidade pelo que possa ocorrer nas vossas vidas mediante a interpretação destes insultos tal qual o GPS não se responsabiliza por uma multa de transito se lá disser que o limite de velocidade é 90 mas houver um sinal na estrada a dizer 30.
Ainda digno de referência são os comentários depreciativos no diminutivo: "és tão mauzinho", "não sejas chatinho"... este antagonismo entre a crítica e a afabilidade dos diminutivos levanta suspeitas.
Importante é não confundir um insulto ligeiro com um insulto paradoxal. Palerma, pascácio, nabo, etc, têm a real intenção de expressar uma crítica leve. Já um insulto paradoxal tem um sabor diferente e deve ser degustado mais como um elogio do que como uma crítica.

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