domingo, 3 de março de 2013

Fim à ditadura do olhar!

Vivemos na opressão. Vivemos em muitas opressões certamente, mas aquela a que me refiro não é económica nem política. Hoje eu falo de uma ditadura rígida instituída sob a forma de uma regra de etiqueta: é reprovável olhar deliberada e especificamente para o corpo de outra pessoa, particularmente quando o alvo é feminino e os olhos são masculinos.
Porquê? Porque é que é de mau tom olhar para o rabo, as pernas ou as mamas de alguém? Dito assim, sem rodeios, nu e cru, sentimos automaticamente uma tendência para aceitar que realmente é errado fazê-lo, mas não nos deixemos levar por emoções que fomos formatados para sentir desde tenra idade, sejamos racionais! Não há nenhum motivo muito lógico para ser assim, é só porque sim, porque fomos ensinados dessa forma desde sempre. É uma verdadeira ditadura, é totalmente não democrático, é uma regra imposta que nunca ninguém ousa discutir. Eu vou falar disto segundo a minha perspectiva, que é como quem diz em relação a olhar para o corpo de uma mulher, mas quem estiver a ler transpõe para o que mais pertinência tem para si, eu obviamente aceito e defendo exactamente a mesma posição quanto a olhar para o corpo masculino (embora o estigma seja muito menor nesse lado). Obviamente tem todo o sentido que o primeiro sítio para onde se olha seja a cara! É o que nos dá mais informação imediata sobre a pessoa. Mas depois não vejo porque não se possa olhar naturalmente para o resto do corpo, sem constrangimentos. Ninguém hesita e dizer "essa franja fica-te mesmo bem assim!", mas nunca se ouve com naturalidade "com essas leggings ficas com o rabo mesmo jeitoso". Dirão que o problema está na conotação sexual de algumas partes do corpo. Eu digo que não vejo nenhum problema em olhar-se para qualquer zona, independentemente da conotação sexual. O que é que a conotação sexual tem demais? Somos uma sociedade que não é, mas gosta de se dizer open minded. E como tudo o que tenta ser o que não é, só consegue fingi-lo em questões populares e óbvias, mas falha redondamente nos pormenores, na malha fina do quotidiano. Para além disso posso fixar o olhar nas mãos ou nos pés de qualquer rapariga sem que ela ou alguém se pergunte se terei um fetiche por pés ou mãos, sem que haja algum incómodo, porque a preocupação real não tem a ver com o lado sexual, a preocupação é a regra, a lei suprema, a norma pela qual todos se vergam e quando digo que todos se vergam também me refiro ao olhar.

A beleza é para ser apreciada, senão de nada serve. Que se veja sem desconfortos tudo o que é aprazível ao olhar, afinal olhar não traduz senão um elogio. Que se leiam todas as frases nos tops das raparigas, por mais insignificante que seja o seu sentido (como aliás é por norma), com a naturalidade que se lê o jornal. Que o corpo feminino possa ser olhado no dia a dia como se olha uma paisagem natural, que afinal ele faz parte da natureza tanto como as flores fazem! Fim à ditadura do olhar! 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Speak up your mind!