segunda-feira, 18 de março de 2013

Cuidado com a língua

Dia treze deste mês, dia em que saiu fumo branco da Capela Sistina, ia eu no metro ao fim da tarde quando soube que não fui eleito papa. Três raparigas, que por ali estavam sentadas àquela distância que faz forçosamente a conversa delas um bocado minha, começaram a falar sobre o conclave. Pois e é mesmo nesse momento, a caminho da trindade, que, repito, soube que não fui escolhido para ser o próximo Sumo Pontífice. Isto porque os eleitores são apenas os cardeais com menos de 80 anos, porém "qualquer homem maior de idade e não casado, que seja baptizado segundo os preceitos católicos, é elegível para Papa". Ora isto é uma definição onde eu encaixo como uma luva. Foi então com o espírito dividido pela alegria de se ter encontrado um novo pastor para orientar os caminhos da igreja e pela ligeira decepção de não me terem encontrado a mim, que ouvi dessa conversa alheia que já havia um novo Papa, e que era Argelino. Argelino, eu disse bem, da Argélia. Ora isso excluía-me obviamente. Então tratei de informar alguns dos que me são mais próximos.
Pessoas que andam no metro, nos autocarros, em todos os transportes públicos, pessoas que sabem falar línguas que eu entendo, pessoaque têm voz e que a usam, particularmente à minha beira: cuidado com o que dizem! Pessoas, não digam categoricamente estas coisas quando não as sabem categoricamente, ou quando não as sabem de todo. Vocês não sabem a repercussão que podem ter as vossas palavras não sábias. O novo Papa continua a não ser encarnado por mim, continua a não ser Português, nem Europeu. Mas a questão é que NEM ARGELINO! O novo Papa é Argentino, como eu vim a saber no dia seguinte. Mas, tal como é Argentino, por acaso de igual dimensão podia ter sido eu eleito, e graças a essas informações imprecisas eu andaria descansado sem saber, sem preparar sequer a mala para a ida para Roma...
Por isso, pessoas, fazei de todas as vossas afirmações robustas construções alicerçadas profundamente na certeza e na verdade, e dessa forma não fareis com que eu passe mais vergonhas às vossas custas!
Pessoas que leram isto: Por esta altura já todos devem estar a pensar na pouca coerência entre os moralismos que impinjo e as minhas acções. Para quem pede a certeza a cada palavra proferida assumir por verdade uma coisa que se ouve numa conversa alheia não parece muito bem. Não me vou defender, vou só usar esta técnica falaciosa de antecipar o vosso argumento para ele não parecer assim tão bom e descansar à sombra da unilateralidade (porque vocês quase nunca comentam! sim isto é uma crítica) desta nossa conversa.



2 comentários:

  1. Para que conste: só é legítimo ouvires as conversas alheias numa viagem de comboio (porque é demorada). Numa viagem de metro é só bisbilhotice.

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  2. Eu não posso tapar os ouvidos (sem parecer ter um problema social sério obviamente)... E isso iliba-me.

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