segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Pedra, Tesoura, Papel e os efeitos invisíveis do intelecto


Eis um grande clássico dos jogos que, ao contrário do que o nome parece indicar, não precisam de nenhum equipamento ou material para serem jogados. É mais complexo que o rival "par ou ímpar". Para além do mecanismo de jogo mais elaborado, também tem como vantagem a atractividade e até a parca lógica: sempre tem mais sentido e é mais cativante imaginar uma tesoura a cortar uma folha ou uma folha a tapar uma pedra, do que uma disputa pela paridade ou imparidade dos números.
O "pedra, tesoura, papel" (ou "pedra, papel, tesoura", depende dos autores, sendo este um debate de grande polémica) é também considerado uma das formas clássicas de tomar grandes decisões, particularmente resolver grandes disputas. Exemplos: quem é que vai lavar a louça; quem é que fica com o último mon chéri; quem é que ganha um concurso público... A minha própria vida foi direccionada à custa disto.
No que toca à estratégia de jogo, À primeira vista podemos ter a ilusão que neste jogo tudo depende da sorte. Mas veja-se melhor! Todos nós, jogadores disto (que somos, é inegável), sentimos aquela tendência inata para achar a pedra a melhor "carta" em jogo. De certo porque a pedra seria aquela que numa situação real poderia causar dano físico às outras. Na verdade os três objectos são iguais no que toca a vantagem no jogo, mas não, nem o papel nem a tesoura nos transmitem aquela sensação subliminar de segurança. A pedra vem, ao longo de milhares de anos, sendo enraizada na nossa cultura como símbolo de solidez (porque é efectivamente sólida), como símbolo de estabilidade: a pedra - entidade sobre a qual uma casa deve ser alicerçada. Portanto, um jogador tem uma tendência natural, não se deslindando dessa simbologia, para jogar "pedra". Ora um bom jogador sabendo disso deverá optar por jogar "papel" porque terá uma probabilidade melhor de ganhar. Um muito bom jogador, por sua vez, é aquele que, achando que o seu adversário não parece um novato e deverá jogar "papel", vai jogar "tesoura". Agora o que fará um exímio jogador? Um jogador exímio será aquele que olha para o seu adversário, tem a ousadia de diagnosticar o estádio em que ele está, e mediante isso adequa a sua jogada. Quando um jogador exímio encontra um muito bom jogador (que joga papel como já vimos) o que é que ele joga? "Pedra", tal e qual o novato! Isto é inteligência de efeito prático redundante. Para um observador, o que fica é o visível, é a "pedra", independentemente do trabalho intelectual oculto por trás da decisão. Na verdade isto neste jogo não me causa qualquer incómodo. Mas isto acontece em muitas outras situações. A actividade intelectual deve sempre deixar um rasto visível, para que seja reconhecida. Coisa que não aconteceu ( não aconteceu deixar rasto, porque o reconhecimento esse sim, esse existiu ) neste quadro de Joan Miró, chamado simplesmente Paysage: 
Onde eu quero chegar é, e apenas como exemplo, este quadro enorme, 2 metros de largura, está assim, sem nada que o explique, a ocupar meia parede no museu Reina Sofía em Madrid, um grande museu internacional, ao lado de por exemplo Guernica de Picasso. E o que é que isto é? Para mim isto não é criatividade nem genialidade, mas mera presunção. Até podem dizer que ele tinha uma elaboradíssima explicação para o quadro, que tudo tinha uma intencionalidade, mas se assim é, que o explicasse. Que o escrevesse. Que o colasse num post it no quadro quando o vendeu, isso é que era original! Para mim é uma obra preguiçosa, feita à espera que os críticos arranjassem uma forma complexa de a interpretar, por saberem que era dele. Para mim isto isto vale tanto como um desenho de qualquer miúdo de 4 anos. Ou vale menos, porque este não implicou esforço nenhum. Se tiver havido algum trabalho intelectual para que é que ele serviu, se está semelhante ao que qualquer miúdo faria? É que, bem, intelectual não podemos saber se houve, mas trabalho/empenho técnico esse não houve de certeza...
Não gosto quando se valoriza uma obra em função do autor. Quem garante que o miúdo de quatro anos não pensou mais do que o que se assume que Miró tenha pensado, na simbologia do desenho?
E nem sequer bonito é...

P.S.: ainda ficaram por falar as variantes do pedra-tesoura-papel com o fósforo ou o laser; a simbologia de cobrir (a pedra com o papel), que é uma vitória do intelecto em sociedade sobre o poder físico; e por dizer que eu gosto de Miró (no geral).


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