quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

É por eu ser...? Não, não é.

Ontem lembrei-me dos Malucos do Riso. Acho que não há ninguém com mais de quinze anos que não se lembre. Lembrei-me de um dos personagens mais emblemáticos da série, o cigano Lelo, que era interpretado por Camacho Costa. Claramente criado com intuito de ser um personagem-tipo. Era um cigano que invariavelmente tentava escapar da polícia por todos os meios possíveis. Um cigano que invariavelmente mostrava uma enorme apetência por uma panóplia de actividades ilícitas, particularmente furtos e burlas. Todos nos lembramos bem desta caracterização. Agora eu imagino como seria se hoje surgisse uma série que caracterizasse assim uma pessoa de etnia cigana. As críticas iam chover, qual dilúvio!
Hoje em dia a sensibilidade social para encontrar discriminação está muito aumentada. Para o bem e para o mal. Tal como a maioria dos testes muito sensíveis, este faro para detectar discriminação também dá alguns "falsos positivos". Às vezes parece-me haver uma hiper-reactividade e até algum aproveitamento da situação. Digo isto e não me refiro a nenhum grupo ou etnia em específico, mas também se quisesse referir-me não sei se me atreveria. Hoje há que falar sobre isto como quem anda num tapete de ovos. So, o que eu quero dizer é que a discriminação é horrível e deve ser evitada por todos os meios, mas também é preciso que não se aproveitem da posição de "discriminado", sobretudo como desculpa para atitudes irresponsáveis/incorrectas, coisa que acontece não raras vezes.
Outra coisa que acontece é que essa maior sensibilidade parece uma matéria decorada e não entendida. Só o sabem reconhecer quando é naquele alvo para o qual a mira já está apontada, à espera do erro. Lembro-me de, talvez há um ano, ter visto uma notícia/reportagem sobre confrontos entre uma comunidade de etnia cigana e outra negra, algures no nosso país. Arremesso de pedras, tiros, e aquela destruição inerente a este tipo de coisas. E lembro-me de uma das últimas pessoas a ser entrevistada (externa à situação) comentar que estranhamente ainda não tinha ouvido uma única pessoa a falar de racismo... Curioso.
Pois é, no fim de contas não sei bem se realmente a sociedade evoluiu e consegue perceber melhor a estupidez deste tipo de atitudes ou se na maior parte das vezes não é apenas um fenómeno de massas, como qualquer outro, em que as pessoas criticam em manada as situações que lhes são apresentadas como criticáveis, na ausência total de espírito crítico. E isto não seria novidade nem espanto nenhum cá em Portugal, onde as pessoas aderem a manifestações com um fervor e com uma convicção tão absoluta (e é tal a indignação que lhes queima o peito, que não podendo ser contida até se liberta sob a forma de pedras voadoras) mas depois não sabem justificar  as suas exigências melhor do que um miúdo de cinco anos explica porque é que quer um action man. Mas isto era tema para outro longo texto.
Ainda assim, e apesar de tudo, antes esse reconhecimento mesmo que induzido quase por moda, do que a ausência dele. Pede-se é também alguma razoabilidade, é que toda a gente conta piadas de loiras ou alentejanos e eles nunca se queixam discriminação. Porque de facto isso não o é!
Portanto o lema resumo disto tudo é: Não à discriminação! E não também à vitimização!

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