domingo, 8 de julho de 2012

A "Licenciatura" De Miguel Relvas



"As pessoas têm de os aprovar e ninguém os aprovará como operários, acham eles. As instituições corrompidas que se prostituem para este efeito ficam com a sua imagem destroçada e perdem as migalhas de credibilidade que religiosamente ainda podiam guardar, conseguem surpreender com tamanha indecência e descaramento."

in Políticos: prematuros e cesarianos por Pedro Bragança na P3


Será muito naif da minha parte crer que a razão que motiva alguém a ingressar no Ensino Superior se prende com o gosto pelo conhecimento? Pelo interesse em aprender mais, evoluir e desenvolver competências numa determinada área. O futuro profissional importa, naturalmente, não sou tão romântica ao ponto de considerar que as perspectivas de futuro não têm peso. Todavia, tirar um curso com o único propósito de tornar-se Doutor/Engenheiro, ter um diploma que possa imprimir Licenciado no Curriculum, afigura-se-me como uma ideia desprezível. Onde está o orgulho, o brio em poder chegar ao fim de 3, 5 ou 6 anos de estudos e pensar que, após grande esforço, se conseguiu cumprir objectivos e tornar-se um pouco mais sabedor. 
Entristece-me entender que neste país tudo isso é irrelevante, a qualidade da aprendizagem é nada mais que secundária perante cargos, prestígio e dinheiro. Não considero o percurso académico como sendo fundamental para uma pessoa, muita gente há que leva uma vida útil e meritória sem nunca ter entrado numa faculdade. Por alguma razão é um ingresso facultativo. Muito embora, hoje em dia pareça que não há alternativa, aos dezoito anos, que não seja ir tirar um curso. Não vale a pena, o tempo e o dinheiro que se gastam, fazê-lo se não pelas razões certas, muito menos se não for com a vontade de, efectivamente, estudar, aprender e fazer cadeiras. Os políticos têm a mania de que para o serem, é indispensável uma licenciatura que os credibilize. Sob pena de esta credibilização forçada e forjada descredibilizar, vergonhosamente, o Ensino Superior, nomeadamente, o privado. Não se admite que a Educação seja um comércio, tendo como prioridade o lucro, antes da Ciência.  Poderá um povo seguir e confiar em líderes capazes de sucumbir a este tipo de facilitismo e artifício? Pelos vistos é, no mínimo, capaz de ignorar e olhar para o lado, basta lembrar o, igualmente lamentável, exemplo de José Sócrates. 

4 comentários:

  1. Inês, o Sócrates pelo menos, antes de toda essa marosca, tinha o Bacharelato, era Engenheiro Técnico, pelo ISEC.

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    1. Ok, mas isso não torna menos grave o que ele fez. Também quis obter mais prestígio através do facilitismo e aldrabice. E não deve ser por acaso que incentivou toda a população a fazer o mesmo com o projecto Novas Oportunidades.

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    2. Sou a favor das novas oportunidades :)

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  2. Eu seria a favor se houvesse credibilidade e alguma exigência nele. Dar às pessoas que tinham a 4ª classe o 9º ou o 12º ano só para dizer que se tem é irrelevante. Aliás, é mau. Eu nunca contactei directamente com o projecto, mas de toda a gente com que falei, e digo alunos e professores das novas oportunidades, não obtive um feedback positivo... Era preferível um reconhecimento oficial de competências na área, porque é óbvio que ao fim de 20 anos a trabalhar num ramo qualquer se aprendeu muita muita coisa acerca dele. Mas não se aprendeu português nem matemática, e eu saí do 9º ano a saber mais de ambos do que o necessário para se fazer bem o 12º pelas novas oportunidades.
    Mas também sou totalmente a favor que se dê mais formação a essas pessoas na área das TIC, Português, Matemática, Inglês e outros. Mas reconheçam-lhes as competências que têm na área em que as têm, não noutras.

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