domingo, 24 de julho de 2016

Single-serving friend

A travessia pelo deserto adivinhava-se longa. E tudo era areia. Escaldante. Inóspito. Adivinhava-se eterno. Escalando, pessimismo acima, tolda-se o juízo à medida que o oxigénio se rarefaz. 
À minha volta era areia, a perder de vista.  A minha impaciência desorientada fez-me embrenhar mais e mais, emaranhar mais e mais, acho que até sei, mais ou menos, como cheguei aqui, mas não sei regressar. 
Insciente do meu desânimo, limitaste-te a ser diante de mim. Ias dizendo aquilo que dizes, como dizes, agindo como ages. E não fizeste nada de extraordinário, nada que não costumasses fazer todos os teus dias. Os teus dias extraordinários, sobrepuseram-se a algumas das minhas horas ordinárias e inférteis. 
Devo ter-te dito uma vez ou outra o quanto gosto de conversar contigo. Conversas sempre desequilibradas, resumindo-se a minha participação a um chorrilho de questões sequiosas. Mas sabes, não é fácil encontrar alguém que tenha tanto para responder, não categoricamente, não intransigentemente, é só a minha opinião menina, tu vais e lês mais sobre o assunto... A tua opinião ponderada de quem sabe que nunca se sabe tudo, gigante perante a minha certeza de não saber nada. Conhecer-te foi suficiente para me inspirar, a nada em concreto, só a viver inspirada. A respirar com maior frequência. 
Já não te vejo há um ano, provavelmente não volto a ter o privilégio, mas, já ultrapassado o deserto, todos os dias me lembro de ti. Espero que esteja tudo bem. 
  

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