segunda-feira, 21 de março de 2016

Is Plain... Jane Jones




- Faça-me esse favor, vá dizer àquela destravada que comigo não faz farinha. Tem boa idade para ter juízo, dá-lhe assim para querer chamar a atenção, tenho toda a gente à espera.

- Senhor Domingues, a Luisinha já não mora aqui.

- E essa! Mudou-se para uma casa maior, para quê, se estava aqui tão bem. Quer mais salas para limpar, aqui tão bem, um apartamento modestinho, arejado, a dois passos do escritório. É a única que me consegue chegar antes da hora. Até esta semana! Pensa que me come por lorpa, com uma saúde de ferro, qual é a desculpa?

- Tenho de voltar para dentro, tenho o empadão ao lume há...

- Minha cara, é fim de mês, quem me vai fechar as contas? Telefone-lhe! Dê-me o novo endereço, ande lá que não a chateio mais.

- É chato, é, ela ter-se sumido sem dar cavaco a ninguém mas...

- Pode dizer que eu aponto.

- Senhor Domingues, se fosse assim tão simples, não tenho nenhum endereço, ela já não mora no rés-do-chão, só me disse que se ia mudar para ela. Que sentia saudades de morar nela.

- Nela?

- No dia em que me veio deixar as chaves estava alegre como nunca a tinha visto antes. Nem uma vez, assim tão satisfeita, e já era minha inquilina há cinco anos. Ouça, eu percebo-o, também fiquei desgostosa, mais ninguém pagava tão adiantado como ela.

- Nela?

- Percebe? Eu não percebi. Paciência! Ela nunca foi muito de falar, também não era de fazer grandes perguntas. Mas ouvia-me, quando a encontrava a chegar a casa. Gostava de ouvir as minhas apoquentações, tinha muita paciência, também não devia ter muito mais com que se preocupar, olhe, partilhava.

Exasperado, o homem sacou o lenço meio limpo do fundo do bolso do sobretudo, tentando limpar as gotas de suor que já lhe escorriam pela careca. Não se apercebera que estivesse um dia especialmente quente, vendo bem, nem está, até me corre um vento frio pelas orelhas. Ai meus trabalhos, como é que eu dou conta do serviço, agora.

- Importa-se que volte?

O homem acenou vagamente com a cabeça, enquanto a voz lhe falhou e os olhos se perderam no cimento da calçada.

- Ah, mas olhe, ela mandou-lhe um beijo.

- Como?

- Rosa, diz-lhe que lhe mando um beijo - encenou um ar pensativo, durante dois segundos, como quem reproduz uma mensagem de extrema importância - foi isso, foi o que ela disse.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Speak up your mind!