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Percebe, estes anos todos, achei que era de casa. Todos estes anos, não percebi que sou uma visita. Daquelas que exigem cuidado e trabalheira antes de receber e a quem não se está à vontade para dizer, agora vá se lá embora que tenho de ir fazer o jantar. Não imaginei que desatasse a correr buscar a vassoura quando partisse o copo. Compreenda a minha surpresa. Desculpe-me, por o ter recebido em minha casa, com a toalha de todos os dias, sobre a mesa, com sombras de nódoa de vinho e café. Se me tivesse avisado, teria posto uma das toalhas de linho, não vá o amigo regressar a sua casa com a impressão errada. Espero que não se tenha ofendido comigo, não foi por mal. Merece tudo do melhor. Merecia a prata e a porcelana.
A vida corre, invariavelmente, bem, obrigada. Nunca pior, enquanto houver saudinha. Desculpe não ter tido essa deferência consigo, polida opacidade. Tratei-o com a transparência habitual de quem entra pela porta da cozinha, sem limpar os sapatos no tapete. As minhas palavras não costumam ter um significado alternativo, não perca tempo a tentar desconstruí-las.
O amigo vai desculpar-me, eu tenho o maior respeito por si, mas não me apetece. A canseira é tal e não consigo puxar pela cabeça. Não me peça isso. Não fique triste. Não se esforce. A sua expectativa é demasiado pesada para mim. Por favor, não me obrigue a calcular, não torne cada conversa na defesa, ansiosa, da minha intelectualidade. do meu valor e excepcionalidade. Esteja à vontade para corrigir-me a cada gaffe, mas não espere que faça o mesmo. Não tenho como provar-lhe não ser miserável. Não tenho como provar-lhe a veracidade da minha felicidade, não me mace.
Fazemos assim, quando me vir na rua, pergunte-me como vou. Hei-de responder-lhe positivamente, da forma mais convincente que conseguir. Delicadeza, em nome dos bons tempos. O amigo devolver-me-á o seu sorriso, ainda mais largo, mais branco. Eu não duvidarei de si, para mim não é difícil, entende? Eu conheço-o de ginjeira, bem sei que é um tipo porreiro.
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