segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Atlântida e o conhecimento não sustentável

Atlântida seria uma civilização pródiga, a sociedade perfeita e evoluída, que foi amaldiçoada pelos Deuses depois de se tornar gananciosa, e foi destruída por um desastre natural, um vulcão, um tsunami, um cometa — neste parâmetro as versões variam.
Eu não creio que tenha sido bem assim. Reconto-a:
Os Atlantes viviam na sua sociedade extremamente evoluída, orgulhosamente sós, no meio do Atlântico, rodeados só por mar e informação. O seu mote era a busca pelo conhecimento. Insaciáveis! Viviam na busca de saber mais, mais ainda, de saber tudo, e haveriam de o conseguir. A ciência fervilhava, era produzida em grande escala, industrialmente! Os despojos dessa grande maquinaria intelectual iam-se acumulando, a poluição mental enevoava o futuro como o smog. A filosofia era a sua religião. Entregaram-se à causa única da conquista do conhecimento total. E digo o conhecimento e não o saber. Foram chacinando todos os mistérios, um a seguir ao outro. Da infimidade das partículas à infinitude do cosmos, tudo escrutinaram, tudo desnudaram. E foram esgotando o conhecimento porvir, da mesma forma que a plantação excessiva esgota a terra. Beberam sofregamente o conhecimento até à última gota, e o último bastião a cair, a última e derradeira descoberta, foi qual era a condição essencial à felicidade, e que a tinham destruído irremediavelmente — a ignorância.
Donos do conhecimento absoluto, mas sem rumo e sem esperança, incapazes de esquecer, afundaram a ilha e fizeram dela o seu túmulo colectivo, no fundo de uma fossa abissal, algures no Atlântico — onde a maioria dos peixes são cegos e os que não são têm uma memória muito curta para se lembrarem do que viram.

2 comentários:

  1. Será este o nosso destino? Ou será presunçoso comparar a nossa civilização a esta?

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    1. O conhecimento absoluto não existe, não é alcançável. Mas é inegável que hoje em dia conhecimento e tecnologia evoluem a um ritmo estonteante. E essa evolução não é acompanhada por uma evolução equivalente na consciência social e na ética. E é nesse desequilíbrio que está o problema, não é na evolução em si. Por isso sim, a comparação deve ser feita. O desfecho quero acreditar que não.

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