terça-feira, 15 de maio de 2018

Só por distracção, certamente.

Às vezes estamos prestes a beijar a mulher da nossa vida pela primeira vez e dói-nos imenso um ouvido.

Às vezes estamos no funeral do nosso melhor amigo e estamos cheios de vontade de mijar.

Às vezes até, o nosso filho nasceu e nessa mesma semana temos, ainda assim, de entregar o irs.

Às vezes temos uma das melhores ideias da nossa vida e de seguida o vizinho começa a ouvir música pimba indecorosamente alta.

É uma lástima que o megalómano Destino que cruza duas pessoas, separa outras duas, faz brotar um rebento num útero e outro no pensamento não baixe o volume de uma coluna.

Será o Destino sádico? Será a intendência superior da ordem das coisas adepta do humor non-sense ? Não me parece que características tão mundanas sirvam a uma entidade tão transcendental. Não se coloca tampouco a hipótese de um poder capaz de agir de forma tão magnânima se ver incapaz de intervir em coisas de tão menor calibre. E também não há qualquer dúvida que se afigura uma terrível gestão de recursos a mobilização de tantos meios para criar uma determinada situação e depois desaproveitar tanto a sua potencialidade com falhas em coisas tão mais pequenas. Só por distracção, conclui-se, se justificam estas situações, esta pouca atenção ao detalhe de um Destino que, compreende-se, terá muitos outros assuntos mais relevantes com que se ocupar constantemente.

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