terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A Esmola Injusta

A esmola mais genuína que alguém pode dar, a mais difícil mas também a mais livre (e talvez por isso mais valorosa?), é aquela que é dada ao jovem ou adulto, que tem capacidade mais que suficiente para trabalhar, que é pedinte não porque a vida não lhe tenha dado oportunidades de não o ser, mas porque nunca as aproveitou. Essa é a esmola espontânea, independente, justa.

A esmola que damos mais facilmente é uma esmola condicionada. É a esmola que damos a um idoso ou uma criança, incapaz de trabalhar, inválido, frágil, doente ou deficiente. É um sentimento quase de culpa que descomprime os fechos das carteiras e facilita a retirada da pequena contribuição. É uma culpa pela nossa vantagem injusta, pela nossa sorte imerecida. É a dúvida subconsciente se a sorte e as oportunidades não serão de algum modo finitas, e distribuídas homogeneamente pelas pessoas, até esgotarem. E nessa ligeira angustia que vem perturbar a nosso importante dia, lá paramos e damos uma moeda. Cedemos um bilionésimo da nossa vantagem em prol do desventurado que nos apareceu para perturbar a nossa paz interior, paz essa alicerçada no esquecimento treinado. Atiramos um grão de areia para o outro prato da balança e seguimos caminho com a pose e a sensação de ter corrigido um desequilíbrio de toneladas. E a nossa paz não só é restaurada como é até orgulhosamente reforçada.  Essa esmola é injusta. É injusta porque parca, porque insuficiente, desproporcionalmente pequena para o bem que nos faz sentir. É injusta porque apesar de escassa ainda consegue não ser genuína. Porque é dada talvez mais a pensar no nosso bem estar interior que na ajuda a quem a recebe.

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