quinta-feira, 11 de julho de 2013

A força de não fazer força I

Num reino distante, no espaço e no tempo, o terror pululava mais que o musgo naquele outono húmido. Todos tinham medo de sair de casa. Um temível grupo de salteadores assombrava a população, vagueando pelas terras à procura das suas vítima.
A grande maioria dos desafortunados, ao encontrar os assaltantes e sabendo o que os esperava, tentava fugir. As estatísticas medievais dizem que apenas dois entre centenas correram o suficiente para contar a história. A todos os outros a morte cessou a fuga. Perante o medo que se leu na sua atitude, a lâmina fria percorreu toda a espessura dos seus pescoços - foram executados sem misericórdia,
Certos infelizes, muito poucos, ao encontrar os carrascos e sabendo o que os esperava, tentavam lutar. As estatísticas medievais dizem que nenhum entre dezenas lutou o suficiente para contar a história. A todos a morte cessou o combate. Perante a coragem que se leu na sua atitude, a lâmina aquecida pela batalha percorreu toda a espessura dos seus pescoços - foram executados sem misericórdia
Um, um só misterioso forasteiro, ao encontrar os salteadores, sabendo o que o esperava?, não tentou fugir e não tentou lutar. Apenas os encarou, com tamanha serenidade e confiança que os malfeitores não puderam estar certos que aquilo fosse só ignorância. As estatísticas medievais dizem que um entre um fê-lo bem o suficiente para contar a história. Perante a certeza que se leu na sua atitude, a lâmina amornada pela insegurança percorreu toda a longitude das bainhas dos assaltantes - não lhe fizeram nada. Sem saberem como lidar com aquela inesperada atitude, fingiram nervosamente um ar de desdém, embainharam as espadas desnudadas e partiram (Quem nunca viu esta reacção?).
Nunca mais foram vistos por aquelas bandas, e o medo foi murchando como o musgo num Verão quente.
Do forasteiro nunca ninguém soube muito mais, porque seguiu caminho na madrugada seguinte.

Os animais perante uma situação de ameaça reagem de duas formas: lutando ou fugindo (fight-or-flight). Um ser capaz de reagir de uma forma diferente revela-se manifestamente superior.

Por vezes a atitude não beligerante é a mais temerosa.


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