domingo, 14 de agosto de 2022

Burro


Burro que caminhas

mas não corres

nessa tua pele de burro

nesse teu pelo castanho e nítido

que contrasta contra este nevoeiro branco.


Tu que entendes o mundo pelos cascos

e que não é uma forma pior nem melhor

de o entender

do que a minha,

é simplesmente diferente

e é-me inacessível.


Tu com as tuas duas orelhas evidentes

que dançam à frente das minhas imóveis e encolhidas orelhas,

ouves tão melhor que eu

mas nunca ouvirás

o desdém

com que usamos o vocábulo que atribuímos para te designar.

E ouvindo

se entendesses

provavelmente nem te importarias

porque o orgulho deve ter pouca expressão

fora da espécie humana.


E é tão bacoco.

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