quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Rebanhos de Nuvens


— Rebanhos e rebanhos de nuvens! — indicou uma voz a transparecer excitação.
— Mas quem os pastoreia? — indaguei.
— Sei lá eu! Talvez o vento.
— É Deus, é Deus! — interveio-o um pássaro de voz grave em resposta à minha pergunta.

A situação intrigou-me por demais, não tanto pela voz de tenor a dotar tão pequena ave, mas sobretudo porque os pássaros — é sabido — são geralmente ateus convictos. Certamente por passarem tanto tempo da sua existência passeriforme a cruzar a abóbada celeste terão desacreditado no reino dos céus, que para além de tudo lhes é bem mais monótono que o meio terrestre.
Deu-se de seguida uma tosquia terrível e toda aquela lã caiu sobre a forma de fortes chuvadas sobre a terra sequiosa. No dia seguinte a maioria do rebanho tinha partido, mas no céu azul divertia-se em acrobacias aquele pássaro com ar gozão.


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