quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Águas Passadas

"Com palavras duras, Gol lembrou terça-feira, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, que Portugal "foi o único país que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias", quando soube da morte de Adolf Hitler. "É uma nódoa que para nós, judeus, vai aparecer sempre associada a Portugal", exclamou."

Não fazia ideia de que este triste episódio havia sucedido no nosso país - há de 67 anos (se é que ele morreu mesmo, no que toca a factos ele ainda pode vaguear decrépito pela crosta terrestre). Muito embora lamente que, na época, Portugal estivesse sob o domínio de uma medonha ditadura fascista, até certo ponto, conivente com o Führer, não me parece muito justo que se acuse todo um Povo por aquilo que o seu líder imposto fez. Com certeza que antes de colocar a bandeira a meia haste, Salazar não fez um referendo dando a escolher aos portugueses homenagear, ou não, aquele... indivíduo.
De modo que, me parece um tanto injusto que, agora, tanto tempo depois, quando o Governo responsável por tal acção já foi deposto há décadas, o Sr. Gol venha tão rispidamente acusar-nos.
Com certeza que considero de extrema importância que a História seja recordada, precisamente para que, certas circunstâncias nunca se venham a repetir. É certo que se relembre o facto, para que todos tenhamos consciência não só dos momentos de glória da nossa pátria - todas as sovas que demos aos espanhóis, e viva a táctica do quadrado, os Descobrimentos, termos expulso os ingleses daqui para fora, a Revolução dos Cravos... o dia em que nos vimos, finalmente, livres da corrupção massiva (um dia há-de acontecer) - mas também dos momentos que mais envergonham a nossa História. Todavia, afirmar que é uma nódoa que estará para sempre associada a Portugal, parece-me uma tentativa de agarrar-se à mágoa. De que adianta manter ódios de estimação para todo o sempre? A paz e as boas relações entre as Nações passam pela tolerância, não pelo ressentimento. É como dizer aos alemães que cada um deles é responsável pelo Holocausto, porque é alemão. Também aí, é crucial que se mantenha a memória bem viva do que aconteceu. A memória, não a raiva. Os culpados já foram condenados, no fim da Guerra, talvez não todos mas, a maioria dos que não foram executados pela Lei, suicidaram-se antes que isso pudesse acontecer.  O que também não foi grande desfecho para eles. Não está enterrado, mas está resolvido, arquivado. Há que seguir em frente. O que seria do Mundo se todos os Povos outrora injustiçados resolvessem agora apontar o dedo aos seus opressores. Pense-se nos africanos, nos sul-americanos... Os europeus teriam de emigrar para a Lua. Infelizmente, é a História que temos, não pode ser refeita, mas podemos aprender com ela e  evitar a reincidência.  

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