terça-feira, 26 de maio de 2015

Ratos de Museu

Já é antiga a rivalidade entre os ratos de biblioteca e de museu. Há mesmo racismo entre as duas facções (estive tentado a dizer raticismo e ia ser mau...).
Os ratos de biblioteca sempre se gabaram de viver na génese da cultura.
Os outros dizem que já havia pinturas rupestres antes dos livros.
Os primeiros respondem que os desenhos rupestres são apenas os antepassados das letras, um sistema de escrita primitivo. Bons tempos quando a palavra "cavalo" era composta por uma cabeça, quatro patas e um rabo.

Ignorantes! — dizem uns. Insensíveis! — retaliam de cima das estátuas os outros.
Imprecisos! — criticam do alto das estantes, dizendo que o seus métodos são os únicos confiáveis. Ditadores! — alegam no museu dizendo que não há liberdade nem espaço para a personalidade nas bibliotecas.

No museu os roedores consomem mais drogas mas apesar disso a taxa de mortalidade das populações é semelhante porque na biblioteca morrem mais de tédio, especialmente os ratos analfabetos claro está.

Dizem pela biblioteca que os livros são a cultura em estado casto, o conhecimento cristalizado no requinte mais sensual da sua pureza. Tão puro que, dizem eles, a leitura é o método mais fluido de transportar uma ideia, é mesmo a única forma de fazer ouvir-se uma ideia minha na tua cabeça, com a tua voz a pensar as palavras que eu escolhi. E é isso que eu te estou a fazer. A controlar-te a mente. A dizer as minhas palavras dentro da tua cabeça. Voltando aos ratos — já me exibi o suficiente.

No museu os ratos dizem que a arte (no museu os livros não são arte) é o conhecimento amaciado pela sensibilidade humana. Transversal à língua ou à literacia dizem. A brutalidade das ideias talhada para não ser indigesta. No museu uma lágrima chora-se, na biblioteca lê-se. E é esdrúxula!

É áspera a discordância entre os roedores.
Mas também, no fim de contas, o que percebem eles de cultura?

Já tentei dizer isto num desenho mas não consegui!

A melhor conversa do mundo

Perguntei a Deus se ele existia.
Ele respondeu:
— Não, não existo.
Fez-se um silêncio constrangedor e ficou-se por aquilo. Não o tenho por mentiroso.

Claro que a melhor conversa do mundo teria de ser entre o homem e Deus.
A segunda melhor é entre dois golfinhos mas não a vou transcrever hoje.




P.S.: dois golfinhos tatuados.
                                Numa nádega.


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Infelic idade

Escrevo para desencorajar uma estratégia ridícula.

Ser mais infeliz não é sinónimo de ser mais adulto. 
Ser carrancudo também não.
A sério, partidários e praticantes dessa ideia, afianço-vos — não é!
Mas pensando bem talvez resulte, perante outros como vocês. Afinal de contas, se vocês acreditam que esse ar grave e aquele pesar postiço vos faz parecer mais maduros certamente é porque o interpretam assim nos outros. 
Provavelmente as pessoas mais velhas até serão, em média, menos felizes. Porque tem mais responsabilidades e problemas, porque a vida é mais monótona, ou porque os seus olhos é que já lhe vêm pior os tons, porque os níveis de endorfinas no cérebro decrescem com a idade, porque está escrito nas estrelas, porque com a idade vêm as cataratas e já não dá para ver essas estrelas, porque é difícil ser feliz quando nos doem "as cruzes", eu não sei. Agora não é certamente por serem mais maduros. E muito menos por serem mais sábios.
É risível essa atitude. 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Abrindo Abril



perfeita para ouvir a caminho de um lugar verde e calmo
neste início de mês ensolarado

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Noite de Carnaval

Esta é uma noite rara. Nesta noite, e só nesta noite, os super-heróis descem a uma condição mais frágil, mais humana. Estão vulneráveis ao ponto de facilmente se poder encontrar o incrível Hulk a chorar baba e ranho na urgência porque torceu um pé, ou o Super-Homem que não aguentou com tantos shots como pensava (aparentemente super-homem ≠ super-fígado). E mesmo o Wolverine regenera tão mais lentamente que chega a necessitar dos cuidados do nosso SNS.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Frozen heart (2)

Há uns meses escrevi aqui uma reflexão com o mesmo título deste post. É ela, em súmula ou por inteiro, uma só frase:
"O bom de não ter sentimentos é não se poder ficar triste por causa disso."

Na altura não acrescentei sequer uma imagem, por não me ocorrer nada que encaixasse devidamente.
Mas entretanto passei por um quadro de Dali perfeito para isso — O nascimento de uma divindade.


Não me vou pôr aqui a descrever extensamente o quadro, mas aquele coração rochoso a emergir de um lago gelado, o torpor daqueles olhos... Dor, angústia? não, muito para além disso já — só entorpecimento mesmo. O apagamento emocional da figura... parece feita de encomenda.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A estupidez e o surrealismo

Num tabuleiro de xadrez algures na Índia, onde o pai do xadrez nasceu, está um puro-sangue lusitano à conversa com São Nicolau:
— Parece aborrecido... — comenta o equídeo como quem pergunta o que se passa.
— Nem vou estar aqui a contar-lhe toda a história, mas em resumo é isto: detesto gente estúpida! — reclama, desconcertado, o bispo com um barrete vermelho.
— Não despreze a estupidez — contrapõe o cavalo — que ela é o surrealismo dos pobres (pobres de espírito claro está)!

Entretanto, e sem os outros se aperceberem, passava um peão, partidário dos pobres de espírito, fazendo piruetas consecutivas, julgando-se, porventura, um pião.
Terá ouvido a conversa e gritou-lhes:
— E sabem o que é o surrealismo? — não esperou uma resposta — É a estupidez, só que cuspida da boca dos presunçosos! Só ganha o título quando lhe vão ver na etiqueta a origem!
Logo se gerou grande confusão entre São Nicolau e o peão, mas o burburinho não teve muito tempo de se espalhar. A rainha saiu dos seus aposentos e comeu prontamente o bispo. E restaurou-se o silêncio.
Claro que pelas vielas mais sombrias do tabuleiro se ouviam comentários de que o estado deveria ser laico e era um mau princípio aquele tipo de promiscuidade entre o clero e os governantes... mas há sempre más línguas.

Ao fundo, do outro lado do tabuleiro, do alto da sua perspicácia, dizia uma Torre que este texto tanto era uma auto-crítica como simultaneamente a sua defesa!

Dúvida existencial

Esta é uma dúvida que me passa frequentemente pela cabeça. Sempre que vejo ou uso a expressão.

Como interpretar a expressão First World Problems ?

Como uma expressão de chacota dos problemas de que o "primeiro mundo", o mundo ocidental, se queixa ?
Ou como uma ironia dizendo que o problema em questão é dos primeiros, dos mais relevantes, dentre os problemas do mundo (quando na verdade é irrelevante)?

Basicamente, dizendo isto de outra forma: como é que mentalmente lêem a expressão?

"First     world probems" ou "First World        problems" ?

alguém dirá agora, e muito bem, sobre este post :
First world problems...

sábado, 17 de janeiro de 2015

Walking, por Ryan Larkin (1968)

Uma relíquia. Uma ideia simples e tão distinta. Em 1968 pensou inspirado "o que eu quero realmente retratar são figuras a caminhar, simplesmente figuras a caminhar", e fê-lo de uma forma tão fluída e original. Foi nomeado para o Oscar da academia por este trabalho, mas não ganhou.
Os trabalho de Ryan Larkin é uma grande influência para o do mundo da animação. Mesmo tendo em toda a carreira produzido apenas 3 animações, sendo uma delas a Walking.

Sobre o extremismo e o fundamentalismo

Sobre o quão ridículos são.


Poe's Law:


Sem uma indicador óbvio de que se trata de humor, é impossível criar uma paródia ao fundamentalismo que não vá, ela própria, ser interpretada por alguns como uma afirmação verdadeira.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O termo "Grunge"

O Marylin Manson veio dizer esta semana que foi ele quem inventou o termo Grunge.
Ao que consta antes de ser músico trabalhou como jornalista. Andou a cobriu eventos de algumas bandas ali no fim dos 80's início dos 90's. Entre elas os Nirvana. E publicou lá para a revista onde trabalhava uma crítica ao primeiro álbum dos Nirvana —  Bleach — onde terá usado pela primeira vez o termo, tão bem aplicado, que a partir daí vingou. Interessante, embora não tenha a certeza se compro a história.


Fica aqui a mais conhecida do Bleach
About a girl




Tablet

o melhor amigo do anestesista.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

in O FANTASMA DE CANTERVILLE , de Oscar Wilde


—  Meu caro senhor  —  retorquiu o americano  —  ,compro o castelo com todo o seu recheio, incluindo o fantasma. Venho de um país onde se adquire tudo com dinheiro. Os meus compatriotas, activos e diligentes como são, têm levado para a nossa terra tudo o que há no Velho Mundo, a começar pelas melhores e mais célebres actrizes; se, realmente houvesse fantasmas na Europa, eles não deixariam de os adquirir para os nossos museus.
—  Mas eles existem, senhor Otis!  —  respondeu o lorde Canterville, sorrindo  —  , embora tenham resistido às propostas tentadoras dos empresários americanos.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Max Weber - o pai da sociologia

"O estado é uma entidade que reivindica (com sucesso) o monopólio do uso legítimo da força física"
Dá que pensar não é? 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natal.

Estamos no Natal. Celebra-se o dia que, todos sabemos, não foi o dia em que Jesus terá nascido. Mas já aí vamos.
Vamos primeiro à forma como eu gosto de ver as pessoas. Todos nós, como seres biológicos que somos, devíamos ter um sentido/instinto de espécie. E como seres conscientes que somos devíamos tê-lo racionalmente presente na forma como agimos. Mas mais do que apenas uma espécie, eu gosto de nos ver ainda de uma forma um pouco mais conexa, porque somos indivíduos que podem ter consciência desse sentido (de espécie), e isso é-nos único. Cada um de nós pode (e deve) ter a consciência não só do seu papel individual, mais ainda, não só do seu contributo nos grupos de indivíduos como famílias ou comunidades, mas da sua imperativa participação, por direito e por dever, para o grupo mais abrangente, a espécie. Pois é, para além das razões morais, religiosas, românticas, etc, esta é a perspectiva biológica que sustenta a acção não egoísta, a acção solidária.
Agora do interesse geral julgo que seja a sobrevivência da espécie, como o é em todas. Creio que ainda não estejamos em iminente risco, apesar de algumas acções desastrosas sobre as quais não vamos discorrer hoje. Mas porque somos ambiciosos e tivemos a sorte de vir tão bem equipados com poder intelectual, julgo que devemos almejar algo mais do que a mera sobrevivência da espécie — a sobrevivência com qualidade. E julgo que facilmente concordaremos que sobrevivência com qualidade será mais facilmente traduzida como felicidade. Retenha-se então esta ideia.
Voltando ao Natal, que recordamos ficou associado ao nascimento de Jesus. Jesus é o fundador de uma religião. Ora Jesus não foi certamente o único a fazer isto, mas fê-lo de uma forma que se tornou uma das mais populares, sobretudo no ocidente. E o que é isto, uma religião? É um sistema de pensamento, uma doutrina, argumentos intelectuais/espirituais, destinados a estimular este imperativo de grupo, de pertencermos todos a algo comum e maior. Um objectivo partilhado e maior que o indivíduo em si. Uns dirão que isso é o paraíso ou o reino dos céus, outros que essa identidade comum é o próprio Deus, outros dirão que a humanidade é como um super-organismo imensamente complexo mas uno, (os americanos dirão que isso é a constituição dos EUA)...

Sem se preocupar muito com o o nome a dar a isso, ou com a teoria que o conduz lá, a conclusão aqui será sempre similar — este natal, faça a sua espécie mais feliz!
(mensagem também válida para animais de outras espécies que me estejam a ler)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Facebook e a Festa do Semáforo

Há muita gente que usa o facebook, de forma mais ou menos consciente, para fins, no fundo, de acasalamento. Vamos usar este termo só para tentar que a ideia choque um pouco, porque já todos sabíamos isso perfeitamente. Muita gente mesmo, é óbvio! Claro que as pessoas não admitirão isso para si — nem é preciso!
O facebook é como a festa do semáforo. As pessoas conhecem alguém que suscita interesse, e tanto num caso como noutro é quase sempre pela aparência (o ser humano é um animal muito visual). A seguir olham para a cor do cartão ou da roupa que trazem vestida para ver a disponibilidade. Se está verde — avançar! ; se está amarelo — avançar com precaução ; se está vermelho — avançar só se não houver polícia por perto. As pessoas fazem o mesmo com o facebook. Vão lá fazer a sua investigação, avaliar, e poupar perguntas (difíceis...) que podem esclarecer ao ver a conta do alvo. É simples ver se está verde ou vermelho, ou então que tipo de amarelo é. Há muitos tons de amarelo, vão a um catálogo de tintas que vocês vêem. E há muitos indícios para identificar o tom de amarelo, mas nem vou agora pincelar sobre isso.
Mas há quem use o facebook de uma forma que nem uma festa do semáforo iguala! Há quem vá percorrendo o facebook à procura de verdes e amarelos favoráveis em busca de estabelecer posteriormente o contacto. Uma triagem portanto. Inversão curiosa da ordem dos acontecimentos, que já eram em si peculiares. Inversão esta que em analogia corresponderia a chegar à entrada da festa, receber uma lista das pessoas presentes, separadas por cores e por tons, e escolher em que grupo se imiscuir!

Mas, e o que é que eu acho disto?
Não estou aqui para dar opiniões que isso hoje em dia é perigoso ter! Gosto de me imaginar neste texto como um jornalista, dos que escasseiam hoje em dia, a fazer um relato imparcial dos factos ( jornalista esse que teria escorregado somente em duas singelas ocasiões durante o texto, com os adjectivos QUALIFICATIVOS "curiosa" e "peculiares" — nada de muito grave portanto!)