Mostrar mensagens com a etiqueta Linguagem. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Linguagem. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Sotaque das Ideias

Até perto dos 18 anos eu nunca me tinha apercebido que a minha pronuncia podia indiciar de onde eu vinha. Claro eu reconhecia o sotaque nos outros, mas até ingressar na faculdade, deslocada de casa, nunca me tinha apercebido que eu poderia padecer também disso. Creio que isto acontece com a maioria das pessoas — não se apercebem que terão sotaque, quantas vezes bem marcado, até estarem numa zona onde a maioria das pessoas não partilha a sua maneira de falar. E a tendência inicial, quando confrontados é negarem: "Eu não tenho sotaque" ; "tu é que tens" ; "o normal é pronunciar-se assim". A tendência natural do ser humano é considerar aquilo a que está habituado — a sua realidade — como o padrão, o correcto. Claro que ao fim de inúmeros avisos, com todo o mundo parecendo concordar na identificação da sua diferença, lá começa a prestar atenção com o espírito mais aberto, e repara que tem fundamento. Isto nos sotaques é engraçado. Todos já nos rimos à custa disto.
Na forma de pensar há um fenómeno semelhante. As pessoas crescem, são educadas e vivem em nichos ideológicos onde raras vezes há lugar para o pluralismo de ideias. As coisas são ensinadas como tendo uma forma correcta, como se existisse uma verdade, muitas vezes dogmática, sem justificações que a acompanhem. É um paradoxo enorme, um desfasamento face à realidade, porque na verdade há tão pouco de absoluto, são raríssimos os assuntos cujo conhecimento seja unívoco. Mas é este sistema o que impera e é curioso que a reacção quando se confronta um desses monólitos intelectuais com uma ideia diferente é semelhante à reacção na questão fonética — a negação, sustentada não nos argumentos mas no hábito, hábito de pensar de uma determinada forma, imutável.
É o que eu chamo de sotaque ideológico. Apanha-se por contágio com os os conviventes mais próximos, líderes de opinião dos grupos em que estamos inseridos, educadores, ou em epidemias regionais ou mais gerais normalmente veiculadas pelos media.
Assuntos como religião, política e até conduta social gerem-se da mesma forma que o clubismo — herdam-se. E é pena, o objectivo devia ser dar a conhecer as diferentes opções, e permitir uma decisão própria e informada, ao invés de impingida



Vi uma vez a moral desta dissertação escrita a graffiti numa parede no Porto:
"Não faças do conhecimento blocos de duro cimento"

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Sabedoria Popular

À deriva na internet, sem bússola nem astrolábio, atraquei aleatoriamente numa publicação com expressões populares portuguesas. Logo nas primeiras três que li encontrei um elo comum, um sentido ignóbil, mais ou menos explícito, em todas elas. Eis que elas foram:

"Ao Diabo e à mulher nunca falta que fazer." Alusão óbvia ao trabalho com as panelas a que ambos estão destinados — um a cozer batatas o outro a cozer pessoas.

"Ao menino e ao borracho mete Deus a mão por baixo." E isto lembrou-me que ao borracho tudo bem, mas ao menino é pedofilia.

"Ele a dar-lhe e a burra a fugir." Opá este nem merece comentários.

E depois disso ainda não li mais nada, (nem sei se vou ler, vou antes ver se as marés me levam a outro porto) porque vim "de caminho" (adoro esta expressão) escrever isto.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

That Awkward Moment When...

... o professor de Toxicologia nos avisa que o pó que estamos a analisar é açúcar amarelo (embora contaminado com heroína), para o caso de alguém ter ideias.


Que ofensa! 

Chama-se açúcar "louro", mister!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Redundâncias

Aquela expressão estou com a cabeça feita em água, não faz grande sentido. Já que 74,8% do cérebro humano é composto por água. A cabeça está, bem vistas as coisas, sempre feita em água. 


E nem vou falar dos bebés que nascem com hidrocefalia porque, enfim... palavras para quê?

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sprechen Sie Deutsch? II

Cá continuo eu pacientemente a tentar aprender alemão. Na minha quinta lição deparo-me com um texto acerca de uma menina - Inge - que está doente e a quem a boa amiga - Anna- liga para ver o que se passa e tal. Estava eu a ler a sua conversa telefónica (o corrector ortográfico da Blogger assinala erro em telefónica e corrige para telefônica, atenção que os brasileiros estão a dominar o mundo e isso não é bom) em voz alta, tentando carregar o menos possível nos erres, e eis que me deparo com uma palava nova: Unterricht. O que quererá dizer isto?, pensei. Unterricht! Não tentem adivinhar por que será um esforço inglório. Muita coisa me passou pela cabeça, muita coisa. Tudo menos algo tão simples como aula, que realmente significa. 
Mas que raio de povo é este? Que arranja uma palavra tão esquisitóide para dizer algo tão banal como aula. Uma pessoa vai pelo texto abaixo e vê coisas bastante aceitáveis que ou se parecem com o inglês como Hause, onde a Inge ficou por estar doente.  Há também as palavras que se assemelham às portuguesas como Dusche. Melhor ainda, são as que nos lembram tanto o inglês como o português, que é o caso de Fieber, a razão pela qual a Inge faltou à UnterrichtDepois há Kinder que primeiro achamos que é chocolate e que depois percebemos que é crianças, mas está tudo bem porque tem lógica. E como nem tudo são rosas há muitas palavras que não se parecem com nada mas que  pelo menos até soam àquilo que significam, depois de se ir ver ao dicionário. Vá lá que Lehrerin seja professora, é bastante razoável, sim senhor. Agora... Unterricht ser aula. Enfim, não admira que aquela gente tenha perdido duas guerras seguidas, perante a tremenda falta de pragmatismo. Sim, porque se acham que (me enganei e) escrevi todos aqueles substantivos em alemão com letra maiúscula por acidente, estão enganados! Eles escrevem-nos assim, sempre com letra maiúscula. Porquê? Vá-se saber! Talvez um Dusche para eles seja tão importante como o nome de uma pessoa ou de uma nação. Dusche e Deutschland ao mesmo nível. Quem diria, logo vindo dos alemães. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Palavras Do Dia

Porque este blog é diversão mas também é cultura! hoje trago-vos duas palavras do dia, para enriquecer o vosso vocabulário (àqueles que já as conhecem peço que não se ofendam com a minha assunção de que não saberiam, bem sei que os nosso leitores são sapientíssimos e tenho-os em alta estima, (passo a graxa)). Ontem à noite, durante a minha  leitura habitual antes de adormecer, deparei-me, quase de seguida, com dois termos totalmente desconhecidos. É meu feitio intrigar-me acerca do significado de palavras com as quais contacto pela primeira vez. Se em alguns casos, mediante o contexto, é possível ter uma ideia, neste caso fiquei absolutamente a leste do sentido das frases em que se inseriam. Daí que tenha ido pesquisar:


ínvio
(latim invius, -a, -um)
adj.
1. Em que não há caminho.
2. Que não dá passagem; onde não se pode passar. = INTRANSITÁVEL

Sinónimo Geral: IMPÉRVIO
Antónimo Geral: PÉRVIO



hiante 

adj. 2 g.
Escancarado, muito aberto.


Procedamos agora a uma rápida e superficial análise. Ínvio, de facto é o paradigma de vocábulo relacionado com o seu significado. Senão vejamos: ÍN=NÃO/SEM; VIO que se assemelha a VIA=CAMINHO. 
Por outro lado, hiante, tem grafia e fonética que em nada deixariam prever o seu significado. À partida, o termo parece representar algo mais nobre e sublime do que ESCANCARADO. Com efeito, a nossa caríssima língua está longe de ser óbvia ou previsível. 
Por ora, deixo-vos um pouco mais sabedores.


Já sei que é raro termos qualquer feedback aqui - excepto quando falamos de comida ou criticamos depilação masculina - mas solicito, a quem por aí, tal como eu, se fascine com isto, que partilhe exemplos de palavras cujo sentido não combine com a grafia/fonética. Estabeleçamos um diálogo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Portuguese Sayings

Não há língua como o nosso português, é um facto. E o que diria um inglês se ouvisse as nossas preciosas expressões traduzidas à letra, bem à moda de um Zezé Camarinha. Ora tomem atenção.








  



 




E aquele elogio que nem os portugueses entendem:



Daqui.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Peganhento

Peganhento será porventura o adjectivo mais peganhento do dicionário. Pelo menos um dos mais. Muito mais do que o seu sinónimo pegajoso, e incomparavelmente mais do que pegadiço. Peganhento escorre visco por todas as letras. É curioso quando a descrição encerra as características que atribui. Peganhento é uma das palavras mais bem conseguidas na nossa língua. As crianças não perguntam o que significa a palavra peganhento, é intuitivo ouvindo ou dizendo-a.
Outros bons exemplos semelhantes são espalhafatoso que nunca passa despercebido numa frase, linguarudo que é uma palavra que se estende mais do que devia, protraindo-se mais do que é foneticamente desejável, ou claro a famosa e excêntrica esdrúxula com acentuação na antepenúltima sílaba. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

Dicionário da Língua Portuguesa


feitura

s. f.

1. Acto, efeito ou modo de fazer; efeito.

2. Obra; execução; trabalho.




Acabei de me aperceber que há quem use este vocábulo. É que nem a minha querida avó!