Na forma de pensar há um fenómeno semelhante. As pessoas crescem, são educadas e vivem em nichos ideológicos onde raras vezes há lugar para o pluralismo de ideias. As coisas são ensinadas como tendo uma forma correcta, como se existisse uma verdade, muitas vezes dogmática, sem justificações que a acompanhem. É um paradoxo enorme, um desfasamento face à realidade, porque na verdade há tão pouco de absoluto, são raríssimos os assuntos cujo conhecimento seja unívoco. Mas é este sistema o que impera e é curioso que a reacção quando se confronta um desses monólitos intelectuais com uma ideia diferente é semelhante à reacção na questão fonética — a negação, sustentada não nos argumentos mas no hábito, hábito de pensar de uma determinada forma, imutável.
É o que eu chamo de sotaque ideológico. Apanha-se por contágio com os os conviventes mais próximos, líderes de opinião dos grupos em que estamos inseridos, educadores, ou em epidemias regionais ou mais gerais normalmente veiculadas pelos media.
Assuntos como religião, política e até conduta social gerem-se da mesma forma que o clubismo — herdam-se. E é pena, o objectivo devia ser dar a conhecer as diferentes opções, e permitir uma decisão própria e informada, ao invés de impingida
Vi uma vez a moral desta dissertação escrita a graffiti numa parede no Porto:
"Não faças do conhecimento blocos de duro cimento"