Quando pensam na vossa própria morte o que contemplam? Ficam a intuir como será a experiência pós-vida? Ou ficam a imaginar como reagiriam as pessoas mais próximas, as mediamente próximas, uma pessoa particular com quem pouco interagiram, quem seria a pessoa que descobria primeiro, como seriam as logísticas fúnebres e sobretudo emocionais dos vivos?
No fundo
na escura cova do nosso âmago
antes da insinceridade de todos os filtros e bandeiras de que somos partidários
e que interpomos sempre
que nos debruçamos conscientemente sobre isto
— no fundo —
todos diferentes temos igual convicção
que não há história
nem experiência
depois do fim.
Depois do fim não há nada.
Nada.
Nem mesmo vazio. Nem ausência. Nem nada.
Depois do fim não há.
A história escrever-se-á pelos vivos, o objetivo e o subjetivo pertencerão aos que respiram, quer a carne quer o éter são cognoscíveis pelo mesmo lado da barricada — os que não falam também não têm nada a dizer.
O nosso interesse historiográfico ou emocional pela nossa morte resume-se à experiência dos vivos, tal é a improbabilidade do resto ser relevante.
E um morto também não tem interesses.