A posse é uma troca.
Parece unívoca, mas não é, é uma troca.
Quando se possui algo ganha-se um direito mas perde-se um grau de liberdade.
Quando nos movemos num estado prévio, pueril e casto — que nunca chega realmente a existir — movemo-nos livres, equidistantes de tudo, porque não há referencial. A posse estabelece uma posição relativa, que deve ser mantida, no sentido de garantir esse mesmo direito transacionado.
Nós, seres desenhados na selva, projetados para a escassez, estamos intrinsecamente dispostos a abdicar da liberdade — um dos poucos bens abundantes na era pré-moderna — pelo direito de propriedade. Mas a posse paga uma renda alta. A posse exige manutenção e tem onerosos custos alocados à preservação do referencial. A posse é um saco pesado e grande e uma preocupação com ele ainda maior.
A posse e o desejo de exclusiva propriedade são intrínsecos e também por isso poderosos. São anti-pluralistas e são anti-democráticos, pelo menos na assembleia interna de cada um de nós. Ofuscam. Falam num tom demasiado alto. Não dão espaço à expressão de outros pensamentos no referencial cognitivo-emocional.
A posse é ubíqua.
A única cura é o eremitério.