Debaixo do mar
há outro mar
corre mais denso
corre profundo.
Debaixo do mar
azul
corre outro mar
magenta
tingido dos séculos
Tingido dos séculos
fragmentos de sangue,
a alma do corpo,
milhões de fragmentos
gotículas ínfimas
a saber a ferro
sangue forjado
fragmentos, fractais,
perdidos para o mar:
perdidos nas praias
perdidos em terra
lavados pela chuva
escorridos para os rios
deixados no mar.
Densos
a aglutinarem-se no fundo
nas profundezas
nos abismos submersos
onde escorregam
para o centro da terra
metais fundentes
ferrosos
e rubros.
Século de águas tingidas
repetido do anterior
repetido dos seus pais,
dos seus avós,
até à primeira geração.
Até ao primeiro coração humano
a lançar sangue para as artérias e veias do primeiro corpo,
com as primeiras chagas
de uma tradição milenar.
Séculos de águas tingidas
por grandes guerras,
por minúsculas guerras,
por dores proporcionais e desproporcionais
(o que importa?)
sangue erodido do corpo
pela agressão de viver
lavado na chuva
tingindo as águas.
Debaixo do mar
há outro mar
parido das veias.
O outro mar
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