A adaptação e a espera pela liberdade serão por certo o mais penoso numa prisão. Num Homem privado de liberdade a faculdade mais preciosa será sem dúvida a imaginação - a liberdade aplicada a uma realidade tão volátil como o pensamento. Uma liberdade irrevogável. Fruto da falta de escolha, essa liberdade - a imaginação - é exercida na intensidade máxima, gasta e usada como uma droga, vasculhada até nos recantos mais improváveis. Veja-se o caso de Dom Quixote, criado por Cervantes quando estava preso. Numa situação tão marcante como estar preso é natural que os primeiros sintomas assim como os que mais hão de prevalecer sejam associados a funções mais basilares, mais primitivas: reprodução, sexo - os tais recantos improváveis. Nada admiram todo o tipo de disfunções sexuais que ocorrem nas prisões, mesmo quando em pessoas que antes eram o que se costuma assumir por normais nesses parâmetros. Toda aquela imaginação confinada a uma cela, a privação, aquele tempo infindo para se questionar sobre tudo... afinal, por mais firmes que pareçam, quais serão as certezas capazes de resistir ao ataque constante das questões?
Tão importante como a imaginação é o seu substrato, as memórias. Mais directa ou indirectamente, é sempre nelas que a imaginação pousa e actua, vai distorcendo e modulando, cortando e juntando, até ser indecifrável a origem. As memórias são como um eterno molde em barro fresco. Se não se mexer nele, vai lentamente cedendo à gravidade, perdendo forma e contorno, esbatendo-se irreversivelmente. Se o formos pegando vamos sem dar conta deformando-o, alterando-o ao sabor da forma inocente como lhe pegamos de cada vez. E isto tira a autenticidade à memória, mas deixa-a à vista e mais preenchida. E antes um bonito anel de vidro na mão, que o um de diamantes perdido pelo chão.
E o que é que isto tem que ver com sexta-feira? Nada, porque eu não ia escrever sobre nada isto. A não ser que o anel se tivesse perdido na sexta, e aí tudo se justificava obviamente.
Que filmes é que tu andas a ver?!
ResponderEliminarOs textos são para serem JUSTIFICADOS. E é "Sexta-Feira" porque o português correcto é sexta-feira e porque as normas deste blog estabelecem que nos títulos pões sempre as inicias maiúsculas, d'accord?
Uma vez li um livro de Victor Hugo acerca da pena de morte - "O Último Dia de um Condenado" - coloca essa questão da relatividade temporal em grande realce. Foi uma leitura muito angustiante mas dá que pensar, certamente.
ResponderEliminarTens que perceber que eu escrevi "sexta-feira" incorrectamente apenas para atrair as pessoas a lerem o texto, contentes por me estarem a corrigir. Mas repara bem que no fim do mesmo eu já escrevi sexta-feira correctamente ;P
ResponderEliminarQuanto a justificar, eu não me sinto na obrigação nem de justificar conceptual/logicamente as coisas que escrevo quanto mais justificar graficamente!
Aconselha-lo? ou melhor aconselhas-mo? é que com a vida que eu levo não tenho tempo para ler livros que não valham a pena!