Sobrávamos lá nós. Quantos? Talvez nem meio. Talvez nem meio fossemos. Todos os outros já tínhamos perecido pelo meio da jornada. Todas essas versões de alter-egos nossos já tínhamos morrido, algures, distraídos com qualquer miudeza, qualquer pedra brilhante ou inseto mais colorido que acabámos por seguir até escorregarmos num abismo ou perdermos o grupo.
O último bastião do movimento estava ali, agora, nesse momento derradeiro, entre a espada e a parede. E eu só conseguia andar em frente, tal era o meu medo da parede. Lisa como um conceito. Limitante. E tu seguravas a espada de forma tão frouxa, e ela enterrava-se mal no meu peito. As lágrimas eram já mais que o sangue. E claro que as lágrimas são um sangue muito mais sério, sobretudo menos espalhafatoso, e foram elas mesmo lavando o rasto vermelho escuro, velho, do sangue poluto. Eu avançava com os ombros adiantados fugindo inutilmente à parede junto da qual eles haviam de ser sepultados. A ponta da espada era torta e ferrugenta, o gume gasto. Surpreendia-me não te ser demasiado pesado um instrumento assim. Tremias das mãos e não sei se também te tremia a voz, porque não falaste, até ao fim.