Demorada caminhada esta, os minutos sabem-me a horas, sem fim à vista e se ao menos passasse uma aragem, uma brisa que
disfarçasse este silêncio nem que fosse só um bocadinho. Nunca mais lá chegamos
para dar meia volta e voltar para casa, ao meu silêncio, intencional e
não imposto por este bando de mal conhecidos taciturnos e abafadiços, acho que
isto se pega, às tantas fujo e ninguém dá por ela ou se calhar tento entabular
conversa, mas só mais uma vez que a minha vida não é isto de ser mestre de
cerimónias acidental. Se não pegar falatório amuo e calo-me de vez e fiquem para aí nesse
minuto de silêncio perpétuo que eu francamente não entendo, ainda nem sequer é
Páscoa, e ainda que fosse vocês nem são católicos, portanto para quê tanta
solenidade? É que se era para estarem calados a tarde toda não tinham vindo. Nem vocês,
nem eu. Embaraçoso desperdício de um sábado perfeitamente razoável na vossa companhia e não
me lixem que não sou eu a tagarela, são vocês que são mal educados e isto já me começa a doer. Sou menina para apreciar um bom silêncio entre amigos ou família, agora, nós
não andámos juntos na escola, não temos intimidade para isto, caminhar de olhos colados no pés e a moumar monossílabos. Na minha terra fala-se e se não há assunto inventa-se, pois, não andamos neste mundo para fazer só o que nos apetece, em nome da convivência
façam o favor de disfarçar o desinteresse e se a desculpa é a língua ser diferente digam que eu também falo
gestos, se for preciso, agora esse encolher de ombros não transmite nada e esse acanhamento está a tornar-se físico, eis que o pescoço baixa e o tronco se contrai, quase que desaparecem - o que nem seria a pior coisa. Virem ser bicho do mato para tão longe... Olha, sempre
chegámos, não há mal que sempre dure, vamos só então ali provar um chisquinho
de aligot para isto ter valido a pena,
que nem eu, nem vócês temos isto em casa, depois vou-me embora que não aguento
mais, se quiserem ficar, sim senhor!, eu vou indo e encontramo-nos por aí, ou se
Deus quiser então não, pelo menos se depender de mim não me apanham noutra.
Numa próxima pergunto quem vem, não é coisa elegante de se fazer, mas este deserto de conversa está longe de constar no meu protocolo.
Nunca me apareçam num elevador.